7 de jan. de 2011

GRAMSCI, UM REVOLUCIONÁRIO*

A vida do líder e teórico comunista italiano Antonio Gramsci (1891 – 1937) é uma bela, embora trágica, história de coerência e fidelidade aos ideais revolucionários. Nascido na explorada Sardenha, depois estudante pobre em Turim, ele se identificou desde muito jovem com aqueles ideais e a eles dedicou o talento de teórico marxista rigoroso e inovador, a força de organizador e agitador de massas.

Ainda militante do Partido Socialista, enfrentou o direitismo de suas correntes hegemônicas. Rompeu com elas, fundou o Partido Comunista Italiano *(1921) e assumiu a perspectiva leninista da revolução proletária.

Preso em 1926 pelo terror fascista, durante os quase 11 anos de prisão, e sob terríveis condições de saúde, estabeleceu pela primeira vez, nos Cadernos do Cárcere, as bases teóricas e políticas para a revolução nos países de capitalismo avançado do século XX.

Mas não só isso: como filósofo, aprofundou e renovou a teoria do materialismo histórico dialético; defensor apaixonado da Revolução Soviética, criticou a exclusão das massas de seu processo de desenvolvimento, denunciou as primeiras violações da legalidade socialista na URSS e previu, com surpreendente antecipação, os descaminhos a que tais violações conduziriam.
Intransigente inimigo do Estado fascista, recusou todos os acordos que lhe foram propostos por Mussolini para ser libertado – apesar do inexorável agravamento da degenerescência física a que a prisão e a doença o submetiam. Morto em 1937, legou-nos uma impressionante obra teórico/política, além do exemplo de paixão, clarividência, combatividade, coerência e radicalidade, postos a serviço da libertação do Homem.

Como foi possível, então, que as idéias deste revolucionário intransigente, deste teórico radical, tenham ido parar nas mãos dos reformistas de todos os matizes, e que eles as falsifiquem, no mundo inteiro, para fundamentar uma prática política de colaboração de classes?

Pois foram os próprios revolucionários que o permitiram, ao abandonar o legado de Gramsci. Talvez porque ele tenha passado à História como um militante e líder partidário “derrotado”, talvez porque tenha sempre parecido um teórico “complicado” e pouco ortodoxo, ou ainda porque a divulgação de seu pensamento até hoje seja deficiente e incompleta. Mas, sobretudo, porque foi deliberadamente “esquecido” (na verdade boicotado) pelas várias burocracias que se sentiam ameaçadas por sua postura crítica e anticonformista.

A tarefa de arrancar definitivamente essa bandeira da mão do reformismo é dos revolucionários. Não apenas porque ele é um símbolo de nossa história e de nossas lutas, mas porque trata-se de pensamento vivo, cada vez mais atual, e de alto poder transformador.

E porque Gramsci, sem dúvida, é um dos nossos: um verdadeiro revolucionário.
DO PARTICULAR AO UNIVERSAL

Como todos os grandes pensadores marxistas (e isto já era verdade para o próprio Marx), Gramsci construiu sua teoria a partir de uma prática política revolucionária concreta. Em seu caso, na realidade da Itália dos anos 10, 20 e 30, do século passado. 

O que marca aquele período é, por um lado, a escalada da burguesia em direção ao fascismo e, por outro, a substituição do anarquismo pelo marxismo, à esquerda, e pelo socialismo reformista, à direita, como as ideologias adotadas pela então combativa classe operária italiana.

Foi a militância na luta de classes que levou Gramsci a perceber a necessidade de uma estratégia específica para enfrentar a burguesia e fazer a revolução nos países de capitalismo avançado. Daí o desenvolvimento por ele de conceitos como Oriente/Ocidente, guerra de movimento/guerra de posição, Estado ampliado, hegemonia, bloco histórico, intelectual orgânico, transformismo, revolução passiva e tantos outros que dão ênfase à instância propriamente política (superestrutural) da luta revolucionária.

Conceitos que se provaram universais justamente por derivarem de uma particularidade concreta – ou seja, porque não nasceram das elocubrações de algum “gênio” da teoria pura, mas da prática revolucionária real, em uma sociedade historicamente determinada.

Não se deve, pois, separar o estudo da teoria gramsciana do estudo da prática política gramscista. Aqui, a teoria não pode ser entendida como um conjunto de dogmas imutáveis, mas como poderoso instrumento para a análise política e a ação revolucionária consequente, desde que utilizada rigorosamente dentro de cada contexto particular – o que, aliás, deveria valer sempre para a teoria marxista em geral.

Notas
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 * Publicado originalmente  em O QUE FAZER – janeiro de 1995.
*Na verdade o Partido  Comunista da Itália, junto com Bordiga.



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