31 de jul. de 2011

Terrorismo político organizado: O massacre norueguês, o Estado, os media e Israel

por James Petras [*]

  "Deixem-nos então combater em conjunto com Israel, com nossos irmãos sionistas contra todos os anti-sionistas, contra todos os marxistas culturais/multicutralistas".

Manifesto de Anders Behring Breivik


"... existem mais duas células na minha organização"...

Ander Behring Breivik sob custódia policial (Reuters 7/25/11)
O atentado à bomba do gabinete do primeiro-ministro norueguês em 22/Julho/2011, Jen Stoltenberg, do Partido Trabalhista, o qual matou oito civis, e o subsequente assassinato político de 68 activistas desarmados da Juventude do Partido Trabalhista na Ilha Utoeya, a apenas 20 minutos de Oslo, pelo militante neo-fascista cristão-sionista, levanta questões fundamentais acerca do crescimento das ligações entre a extrema direita legal, os media "de referência", a política norueguesa, Israel e o terrorismo de extrema direita.


Os mass media e a ascensão do terrorismo de direita:


Os principais jornais de língua inglesa, The New York Times (NYT), o Washington Post (WP), o Wall Street Journal e o Financial Times (FT), bem como o presidente Obama, culparam "extremistas islâmicos", desde os primeiros relatórios policiais dos assassinatos, publicando um série de manchetes incendiárias (e falsa) e reportagens, etiquetando o evento como o "11/Set da Noruega", o qual reflectia a motivação ideológica e justificação mencionada pelo próprio assassino político cristão-sionista, Anders Behring Breivik. Na primeira página do Financial Times (de Londres) de 23-24/Julho, lia-se "Temores do extremismo islâmico: O pior ataque na Europa desde 2005". Obama imediatamente citou o ataque terrorista na Noruega para mais uma vez justificar suas guerras além-mar contra países muçulmanos. O FF, NYT, WP e WSJ activaram seus auto-intitulados "peritos" os quais debateram acerca de quais líderes ou movimentos árabes/islâmicos foram responsáveis – apesar de informações da imprensa norueguesa da "prisão de um homem nórdico em uniforme de polícia".


Evidentemente, os mass media e a elite política dos EUA estavam ansiosos por utilizar o atentado bombista e os assassinatos para justificar guerra imperiais em curso além-mar, ignorando o florescimento de organizações internas de extrema direita e indivíduos violentos que são a consequência da propaganda de ódio oficial islamofóbica.


Quando Anders Breivik, um conhecido extremista neo-fascista, entregou suas armas à polícia norueguesa, sem resistência, e reivindicou o crédito pelo atentado bombista e o massacre, teve início a segunda fase do encobrimento oficial. De imediato ele foi descrito como "um solitário lobo assassino", o qual "actuou sozinho" (BBC, 24/Julho/2011) ou como mentalmente demente, minimizando suas redes políticas, seus mentores ideológicos e compromissos com americanos, europeus e israelenses, que o levaram aos seus actos de terrorismo. Ainda mais ultrajante, os media e responsáveis ignoraram o facto de que este ataque terrorista complexo e com múltiplas fases estava além da capacidade de uma pessoa "demente".


Anders Behring Breivik foi membro de um partido político de extrema-direita, o Partido do Progresso, e colaborador e contribuidor de um sítio web abertamente neo-nazi. Ele frequentemente centrava seu ódio sobre o Partido Trabalhista governante pela sua relativa tolerância de imigrantes. Despreza imigrantes, especialmente muçulmanos, e era um ardente apoiante cristão-sionista repressão e terror israelense contra o povo palestino. Sua acção criminosa foi essencialmente política e integrada numa rede política muito mais vasta.


A elite política e os media fizeram todo o possível para negar o entrecruzamento de ligações entre islamófobos ideológicos "legais", como os sionistas americanos Daniel Pipes, David Horowitz, Robert Spencer e Pamela Geller, o Partido da Liberdade da extrema-direita holandesa dirigido pelo intriguista Geert Wilders e seus homólogos no Partido do Progresso norueguês que se mobiliza contra a "ameaça muçulmana". Os terroristas da "acção directa" tomam inspiração em partidos eleitorais, como o Partido do Progresso, o qual recruta e doutrina activistas, como Behring Breivik, os quais deixam então a "estrada eleitoral" para executarem suas carnificinas sangrentas, permitindo aos promotores do ódio "respeitáveis" condená-lo hipocritamente... após a afronta.


O assassino fascista: Um super-homem solitário viaja mais rápido do que uma bala contra a polícia que se move mais devagar do que uma tartaruga reumática:


O caso do "terrorista lobo solitário" desafia a credibilidade. É um tecido de mentiras utilizadas para encobrir cumplicidade do estado, má conduta da inteligência e a aguda viragem à direita tanto na política interna como externa de países da NATO.


Não há qualquer base para aceitar a afirmação inicial de Breivik de que actuou só devido a várias razões relevantes: Primeiro, o carro bomba, que devastou o centro de Oslo, era uma arma altamente complexa que exigir perícia e coordenação – da espécie disponível para estados ou serviços de inteligência, como o Mossad, o qual se especializa em carros bombas devastadores. Amadores, como Breivik, sem treino em explosivos, habitualmente explodem-se a si próprios ou falta-lhes a qualificação necessária para conectar os dispositivos electrónicos de temporização ou detonadores remotos (como provaram fracassados "sapatos" e "cuecas" dos bombistas da Times Square).


Em segundo lugar, os pormenores de (a) movimentar a bomba, (b) obter (roubando) um veículo, (c) colocar o engenho no sítio estratégico, (d) detonar com êxito e (e) então vestir um elaborado uniforme da polícia especial com um arsenal de centenas de munições e conduzir em outro veículo para a ilha de Utoeya, (f) esperar pacientemente enquanto armado até os dentes por um ferry boat, (g) cruzar-se com outros passageiros no seu uniforme de polícia, (h) acercar-se dos activistas da Juventude Trabalhista e começar o massacre de grande número de jovens desarmados e finalmente (i) liquidar os feridos e caçar aqueles que tentavam esconder-se ou nadar para longe – não é a actividade de um fanático solitário. Mesmo a combinação de um Super-homem, Einstein e um atirados de classe mundial não podiam executar tais tarefas.


Os media e os líderes da NATO devem encarar o público como passivos estúpidos ao esperar que acreditem que Anders Behring Breivik "actuou só". Ele está disposta a aguentar uma sentença de 20 anos de prisão, pois sustenta que a sua acção colectiva é a fagulha que incendiará seus camaradas e promoverá a agenda dos partidos violentos e legais de extrema-direita. Frente a um juiz norueguês, em 25 de Julho, ele declarou publicamente a existência de "mais duas células na minha organização". De acordo com testemunhas na Ilha Utoeya, foram ouvidos tiros de duas armas distintas vindos de diferentes direcções durante o massacre. A política, dizem eles, está a ... "investigar". Não é preciso dizer que a polícia nada encontrou; ao invés disso simularam um "show" para encobrir a sua inacção com a invasão de duas casas longe do massacre e rapidamente libertaram os suspeitos.


Contudo, a mais grave implicação política da acção terrorista é a ostensiva cumplicidade de altos responsáveis da polícia. A polícia levou 90 minutos para chegar a Ilha Utoeya, localizada a menos de 20 milhas [32 km] de Oslo, 12 minutos de helicóptero e 25 a 30 minutos de carro e barco. O atraso permitiu aos assassinos da extrema-direita utilizaram toda a munição, maximizando a mortes de jovens, activistas anti-fascistas, e devastando o movimento trabalhista juvenil. O chefe de polícia, Sveinung Sponheim, deu a mais fraca das desculpas, afirmando "problemas com transporte". Sponheim argumentou que não estava pronto um helicóptero e que "não podiam encontrar um barco" (Associated Press, 24/Julho/2011).


Mas havia um helicóptero disponível. Ele conseguiu voar a Utoeya e filmar a carnificina em curso, e mais da metade dos noruegueses, um povo marítimo há milénios, possui ou tem acesso a um barco. Uma força policial, confrontada com o que o primeiro-ministro chama a "pior atrocidade desde a ocupação nazi", a mover-se ao ritmo de uma tartaruga reumática para resgatar jovens activistas, levanta a suspeita de algum nível de cumplicidade. A questão óbvia que se levanta é o grau em que a ideologia do extremismo de direita – neo-fascismo – penetrou a polícia e as forças de segurança, especialmente os escalões superiores. Este nível de "inactividade" levanta mais questões do que respostas. O que sugere que os sociais-democratas só controlam parte do governo – o legislativo, ao passo que os neo-fascistas influenciam o aparelho de estado.


O facto claro é que a polícia não salvou uma única vida. Quando finalmente chegou, Anders Behring Breivik havia esgotado a sua munição e rendeu-se à polícia. A polícia literalmente não disparou um único tiro; ela nem mesmo teve de caçar ou capturar o assassino. Um cenário quase coreografado: Centenas de feridos, 68 desarmados, activistas pacíficos mortos e o movimento da juventude trabalhista dizimado.


A polícia pode afirma "crime resolvido" enquanto os mass media tagarelam acerca de um "assassino solitário". A extrema-direita tem um "mártir" para mascarar um novo avanço na sua cruzada anti-muçulmana e pró Isarel. (Recorda o celebrado fascista israelense-americano, assassino em massa, Dr. Baruch Goldstein, que massacrou dúzias de palestinos desarmados, homens e rapazes e um pregador, em 1994).


Apenas dois dias antes dos assassínios políticos, o responsável do Movimento da Juventude do Partido Trabalhista, Eskil Pederson, deu uma entrevista ao Dagbladet, o segundo maior tablóide da Noruega, na qual anunciava um "embarco económico unilateral de Israel por parte da Noruega" (Gilad Atzmon, 24/Julho/2011).


O facto que importa é que os militares noruegueses não têm problemas e despachar rapidamente 500 tropas para o Afeganistão, a milhares de quilómetros e proporcionar seis jactos e pilotos da Força Aérea Norueguesa para bombardear e aterrorizar a Líbia. E ainda assim eles não podem encontrar um helicóptero ou um simples barco para transportar a sua polícia algumas centenas de metros para impedir um acto terrorista interno da direita – cujo comportamento assassino estava a ser descrito segundo a segundo pelas jovens vítimas aterrorizadas nos seus telemóveis aos seus pais desesperados.


As raízes imperiais do fascismo interno: Conclusão


Claramente, as decisões da Noruega e outros países escandinavos de participar nas cruzadas imperiais dos EUA contra muçulmanos e especialmente árabes no Médio Oriente excitaram e revigoraram a direita neo-fascista. Eles agora querem "trazer a guerra para casa": querem que a Noruega vá mais além, "expurgar a nação, pela expulsão de muçulmanos. Eles querem "enviar uma mensagem" ao Partido Trabalhista: Ou aceita uma plena agenda neo-fascista a favor de Israel ou aguarda mais massacres, mais fascistas eleitos, mas seguidores de Anders Behring Breivik.


O "Partido do Progresso" é agora o segundo maior partido político na Nourega. Se uma coligação "conservadora" derrotar os trabalhistas, neo-fascistas provavelmente terão assento no governo. Quem sabe, após uns poucos anos de bom comportamento, eles possam encontrar uma desculpa para comutar a sentença do seu ex-camarada ... ou proclamá-lo mentalmente reabilitado e livre.


O que é claramente necessário é a retirada imediata de todas as tropas de guerras imperiais e um combate sistemático, coerente e organizado contra terroristas internos e seus padrinhos intelectuais na América, Israel e Europa. A Juventude Trabalhista deve ir em frente com o seu pedido de que o governo trabalhista, sob o primeiro-ministro Jen Stoltenberg, reconheça a nação da Palestina e implemente um boicote total a bens e serviços de Israel. Uma campanha de educação política nacional e internacional deve ser organizar para revelar as ligações entre fascistas eleitorais respeitáveis e terroristas violentos. Os mártires da Juventude Trabalhista da Ilha de Utoeya deveriam ser guardados no coração e os seus ideais ensinados em todas as escolas. Seus inimigos e apoiantes de extrema-direita, abertos, encobertos ou directamente cúmplices, deveriam ser revelados e condenados. A melhor armas contra o renovado ataque neo-fascista é uma ofensiva política e educacional, assumindo as tradições de combate anti-fascista e anti-Quisling (o notório colaborador nazi da Noruega) dos seus avós. Não é demasiado tarde – se o Partido Trabalhista, os sindicatos noruegueses e a juventude anti-fascista actuarem agora antes do dilúvio do fascismo ressurgente.


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22 de jul. de 2011

A história de um valente

Carta Maior - [Luciano Morais e Roberto Numeriano] A reedição do livro "Memórias", autobiografia de Gregório Bezerra, pela Boitempo Editorial (648 págs., R$ 74,00), comemora um símbolo de resistência e convicção política e ideológica, valores cada vez mais ausentes no meio político brasileiro.

No livro, o revolucionário comunista narra toda sua trajetória de vida e militância, momentos vividos durante os principais acontecimentos da vida política e social do Brasil no século XX.
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Gregório começa a autobiografia "Memórias" narrando a seca e a escassez de alimentos que maltratava constantemente os nordestinos, e que o atingiu duramente em sua infância no município de Panelas, "Fui, assim, uma criança gerada com fome no ventre materno. Sim, porque minha mãe passava fome, e eu só podia nutrir-me de suas entranhas enfraquecidas pela fome".
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Quando aos sete anos ficou órfão de pai e mãe, transformou-se em trabalhador rural assalariado. Condição que só foi interrompida quando, aos dez anos, foi trazido por uma família latifundiária para o Recife com a promessa de criá-lo e alfabetizá-lo, promessa que não foi cumprida. Ao invés da escola prometida, o pequeno "Grilo", como era chamado na infância, tornou-se um escravo mirim: acordava às 4h da manhã, varria, lavava banheiros, encerava pisos e cuidava de animais. Não aceitou este estado de coisas e fugiu. Morou nas ruas do Recife pegando fretes na Estação Central, vendendo jornais e dormindo embaixo da ponte Buarque de Macedo. Trabalhou na construção civil e aos dezessete anos foi preso e condenado há quatro anos por agitação grevista, já influenciado pelos recentes acontecimentos protagonizados pelo proletariado russo.
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Os trabalhos no porto do Recife foi sua atividade após a liberdade. E neste período resolveu dedicar-se à carreira militar, entrando no Exercito Brasileiro, onde se destacou nas atividades físicas e na prática de esportes individuais e coletivos. Ao ser humilhado por um colega de farda, ele decide alfabetizar-se. Isso, aos 27 anos. Alfabetizou-se por conta própria, dedicou-se e foi aprovado para Sargento, consagrando-se Sargento-Instrutor em Educação Física.
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Sua ascensão militar coincide com a aproximação com o Partido Comunista Brasileiro, o PCB, ainda em 1929. Mas foi por causa da organização da Aliança Nacional Libertadora - ANL, onde foi o principal nome do levante de 1935, liderado pelo Partido Comunista, que Gregório Bezerra foi declarado inimigo nº 1 das oligarquias pernambucanas e das forças armadas. Foi preso e ficou incomunicável por dois anos, integrando-se depois aos demais presos políticos da Casa de Detenção do Recife (atual Casa da Cultura). Ali, criou uma sólida e influente base do Partido até sua transferência para o Presídio na ilha de Fernando de Noronha, onde encontrou com vários camaradas insurretos, oriundos do Rio de Janeiro e de outros estados.
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Com o final da Segunda Guerra Mundial e o início do movimento pela democratização do país, são postos em liberdade todos os presos políticos e concedida a legalidade ao PCB. Neste Período de reformas políticas, o Partido Comunista surge no cenário nacional como uma força significativa, pelo prestígio da URSS ao fim da guerra. Pela adesão de vários intelectuais e artistas ao Partido, pelo reconhecimento da classe operária e pelo carisma e admiração em torno de Luiz Carlos Prestes e Gregório Bezerra. Em seguida, a participação nas eleições à Constituinte de 1946 garante ao PCB uma grande representação parlamentar em nível federal, elegendo 15 deputados. Gregório é eleito Deputado Federal com a maior votação em Pernambuco.
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A participação de Gregório Bezerra e dos comunistas na Assembléia Nacional Constituinte e no Congresso Nacional durou pouco. Apenas o suficiente para aprovar uma avançada Constituição à época e o necessário para mostrar o quão frágeis eram os conceitos de liberdade e democracia para as oligarquias nacionais, quando os trabalhadores reivindicam seus direitos e questionam a exploração.
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Cassados os mandatos dos comunistas, Gregório é vítima de uma grande farsa: ainda residindo no Rio de Janeiro, é acusado pelo incêndio criminoso no 15º Regimento de Infantaria na Paraíba. Foi preso e levado à João Pessoa, onde é hostilizado pelos militares influenciados com aquela armação.
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Após um longo período incomunicável no 15º RI, foi transferido para o Recife e jamais poderia imaginar que os fogos que explodiam por toda a cidade era parte da mobilização do PCB para saldar sua chegada.

No dia seguinte, em frente ao quartel da Companhia de Guardas da 7ª Região Militar se concentrou uma verdadeira multidão para visitá-lo. Prevenido pelo comandante responsável por sua guarda que só poderia visitá-lo, os parentes, Gregório disse: Mas todos os que estão aí fora, tenente, são da minha família. Ele retrucou: Impossível, Gregório. Tem gente aí fora de todos os tipos: tem gente bem vestida, branca, mas também tem pretinhos descalços e esfarrapados. Então ele arremata: "Pois bem, mande entrar primeiro os pretinhos esfarrapados, que são os meus parentes mais próximos (...)" O comandante sorriu, e disse: "É por isso que tu estás aqui, Gregório..."
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Após um longo período de dura clandestinidade organizando sindicatos rurais em Pernambuco, São Paulo, Minas Gerais e Paraná, ressurge para atuar na articulação da Frente do Recife, elegendo primeiro o udenista Cid Sampaio e depois Miguel Arraes. A atuação mais expressiva do homem feito de ferro e flor é registrada neste período. Gozava de grande prestígio na zona da Mata Sul, reunindo centenas de delegados sindicais filiados ao Partido Comunista.
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Em 30 de março de 1964, retorna ao Recife para oferecer resistência ao golpe em andamento e solicitar armas para munir os trabalhadores. Encontrou o Palácio do Campo das Princesas ocupado pelos militares. Tal episódio mereceu um comentário posterior: em 1935 tínhamos as armas e não tínhamos os homens, e agora temos os homens e faltam-nos as armas.
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Foi capturado no dia 2 de abril pelo 20º Batalhão de Caçadores nas proximidades do município de Cortez enquanto tentava desmobilizar os camponeses desarmados. Levado ao Quartel de Moto mecanização de Casa Forte, sob os "cuidados" do sanguinário coronel Villoc que, com golpes de cano de ferro, pontapés na boca, tórax e testículos, e o ódio de anos fora descarregado. "Já estava totalmente ensopado de sangue e com todos os dentes quebrados. Sentaram-me numa cadeira com três homens me segurando por trás enquanto Villoc arrancava meus cabelos com um alicate. Depois, obrigaram-me a pisar numa poça de ácido de bateria. Em pouco tempo, estava com a sola dos pés em carne viva."
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O espetáculo de horrores promovido pelo sádico Villoc precisava de platéia. Então, saíram às ruas. A sola dos pés estava repleta de pedregulhos encravados, uma corda no pescoço amarrada ao jipe que carregava o verdugo gritando "Linchem este bandido! É um monstro!" E assim percorremos as principais ruas do bairro de Casa Forte sob uma dor alucinante. Foi um desfile doloroso. Ninguém o aplaudiu. Ninguém o atendeu. "Mas eu queria viver." A atitude das pessoas deu forças para resistir física e moralmente. Gregório Bezerra foi salvo pelo clamor do povo.
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No início de setembro de 1969, o mundo foi surpreendido pela notícia do seqüestro do Embaixador norte-americano Charles Burke Elbrick. Em troca do Embaixador, os esquerdistas exigiram a libertação de 15 líderes revolucionários. Gregório era o primeiro da lista. Na URSS, ele tentou, com o luxuoso auxílio dos médicos soviéticos, recuperar a saúde debilitada, até poder retornar novamente ao Brasil.
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Morreu no dia 23 de outubro de 1983, na cidade de São Paulo.
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Seu corpo foi trazido para Pernambuco e velado na Assembléia Legislativa. O cortejo fúnebre atraiu milhares de militantes e curiosos. No caminho, um trabalhador do serviço de limpeza da Prefeitura do Recife saudou pela última vez o líder comunista de espírito inquebrantável. Paulo Cavalcanti recriou bem o ambiente desta última homenagem a este lutador no livro O Caso eu conto como o caso foi: "Uma toalha vermelha foi hasteada na sacada de um apartamento residencial, e outra faixa reproduzia os versos da música cantada por Elis Regina: choram Marias e Clarices no solo do Brasil"
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Luciano Morais e Roberto Numeriano são membros da Direção Estadual do PCB - Pernambuco.

Fonte: http://www.diarioliberdade.org/ 


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21 de jul. de 2011

A crise ideológica do capitalismo

[Joseph E. Stiglitz] Alguns anos atrás, uma ideologia poderosa - a crença em mercados livres e irrestritos - levou o mundo à beira da ruína.

Trabalhadores, despertai!

Valentin Serov

 

Mesmo em seu apogeu, do início dos anos 80 até 2007, o capitalismo desregulado ao estilo americano só trouxe um maior bem-estar material para os muito ricos dos países ricos do mundo. Aliás, no curso de sua ascendência ideológica de 30 anos, a maioria dos americanos sofreu um declínio ou estagnação da renda ano após ano.
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De mais a mais, o crescimento da produção nos Estados Unidos não foi economicamente sustentável. Com tanta renda nacional americana indo para tão poucos, o crescimento só poderia continuar via o consumo financiado por um endividamento crescente.
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Eu estava entre os que esperavam que, de algum modo, a crise financeira ensinaria aos americanos (e a outros) uma lição sobre a necessidade de maior igualdade, de uma regulamentação mais forte, e de um melhor equilíbrio entre mercado e governo. Pobre de mim, não foi o que ocorreu. Ao contrário, o ressurgimento de uma economia de direita, impelida, como sempre, por ideologia e interesses especiais, ameaça uma vez mais a economia global - ou, ao menos, as economias da Europa e dos Estados Unidos onde essas ideias continuam prosperando.
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Nos Estados Unidos, esse ressurgimento da direita, cujos adeptos evidentemente tentam refutar as leis básicas da matemática e da economia, ameaça provocar um calote da dívida nacional. Se o Congresso ordenar gastos que excedam as receitas, haverá um déficit, e esse déficit tem de ser financiado. Em vez de pesar cuidadosamente os benefícios de cada programa de gastos do governo contra os custos de elevar impostos para financiar esses benefícios, a direita procura usar um malho - não permitir que a dívida nacional aumente obriga os gastos a se limitarem aos impostos.
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Isso deixa em aberto a questão de quais gastos terão prioridade - e se os gastos para pagar juros da dívida nacional não entrarem nessa categoria, um calote será inevitável. De mais a mais, cortar gastos agora, no meio de uma crise acarretada pela ideologia do livre mercado, com certeza prolongará inevitavelmente a recessão.
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Uma década atrás, em pleno boom econômico, os Estados Unidos enfrentaram um superávit tão grande que ameaçava eliminar a dívida nacional. Cortes de impostos e guerras insustentáveis, uma grande recessão, e a elevação dos custos do sistema de saúde - alimentados, em parte, pelo compromisso do governo de George W. Bush de dar carta branca para as companhias farmacêuticas estabelecerem seus preços, mesmo com dinheiro do governo em jogo - transformaram rapidamente um superávit enorme em déficits recordes em tempo de paz.
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As soluções para o déficit americano decorrem imediatamente desse diagnóstico: colocar os EUA de novo para trabalhar com o estímulo da economia; acabar com as guerras insensatas; frear os custos militares e farmacêuticos; e elevar impostos, ao menos dos muito ricos. Mas a direita não fará nada disso, e está promovendo novos cortes de impostos para corporações e para os ricos, junto com cortes de gastos em investimentos e proteção social que colocam em perigo o futuro da economia americana e os farrapos que restam do contrato social.
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Enquanto isso, o setor financeiro americano vem fazendo um lobby duro para se livrar de regulamentos, para poder voltar a seus modos desastrosamente irresponsáveis do passado.
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Mas as coisas não estão muito melhores na Europa. No momento em que Grécia e outros enfrentam crises, o remédio da moda se limita a pacotes de austeridade ultrapassados e privatizações que meramente deixarão os países que os adotarem mais pobres e mais vulneráveis. Esse remédio falhou no Leste Asiático, na América Latina, e alhures, falhará na Europa desta vez, também. Aliás, ele já falhou na Irlanda, Letônia e Grécia.
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Existe uma alternativa: uma estratégia de crescimento econômico sustentado pela União Europeia e o Fundo Monetário Internacional. O crescimento restauraria a confiança de que a Grécia conseguiria saldar suas dívidas, causando uma queda nas taxas de juros e deixando mais margem de manobra fiscal para investimentos para fomentar o crescimento, O crescimento em si alimenta a arrecadação de imposto de renda e reduz a necessidade de gastos sociais, como o seguro-desemprego. E a confiança que isso engendra promove ainda mais crescimento.
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Infelizmente, os mercados financeiros e os economistas de direita consideram o problema exatamente o inverso: eles acreditam que a austeridade produz confiança, e que a confiança produzirá crescimento.
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Mas a austeridade mina o crescimento, agravando a situação fiscal do governo ou, ao menos, promovendo menos melhoras do que os defensores da austeridade prometem. Nos dois casos, a confiança é solapada, e uma espiral descendente é acionada.
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Será que realmente precisamos de uma nova experiência dispendiosa com ideias que falharam repetidamente? Não precisamos, mas ao que tudo indica teremos de suportar outra mesmo assim. Uma incapacidade de Europa e Estados Unidos voltarem a ter um crescimento vigoroso seria ruim para a economia global. Um fracasso em ambos seria desastroso - mesmo que os principais países de mercado emergente tenham atingido um crescimento autossustentável. Lamentavelmente, a menos que cabeças mais sábias prevaleçam, é esse o rumo que o mundo está tomando.
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Tradução de Celso Paciornki
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Fonte:http://www.diarioliberdade.org/

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20 de jul. de 2011

Venezuela: o inconfessável desejo e a realidade

Por acaso os presidentes não têm direito de adoecer? Afinal, estão mais expostos às enfermidades devido a todas as exigências do cargo. Que compostura e dignidade comportam certos setores da sociedade e seus porta-vozes impressos e eletro-eletrônicos quando um presidente se enferma e festejam, mostram satisfação, sabendo que o fato representa aflição e preocupação ao povo que o elegeu. Que classe de seres humanos são os que desejam, dissimuladamente, a morte de presidentes e políticos que não podem controlar, quando diante das tragédias comuns de nosso dia-a-dia se mostram consternados e piedosos.

A direita venezuelana – e isto se pode estender a todas de todos os recantos, em especial de Washington a Madri – pretende conseguir agora, graças ao câncer que acometeu o presidente Hugo Chávez, o que não conseguiu em 12 anos: sua derrocada do poder, por qualquer meio. Tentaram a sedição do golpe militar, valeram-se da Pdvsa para paralisar o país, alegaram fraude em disputas eleitorais, arquitetaram múltiplas conspirações para desestabilizar o governo. Não conseguiram. Perderam as ruas, perderam as urnas e perderam os quartéis. 

A doença de Chávez desatou uma odiosa e repugnante campanha midiática global que jogou no lixo os últimos resquícios de integridade moral e os princípios que devem nortear o jornalismo: objetividade e verdade. Preferiram entregar-se à manipulação política servindo aos interesses da oligarquia local e à estratégia regional do império.

Quem lesse a grande imprensa privada da Venezuela percebia que havia certo regozijo com a enfermidade do presidente, exigindo que Chávez se licenciasse e o vice-presidente Elias Jaua assumisse o Palácio Miraflores. Alegavam os meios de comunicação e políticos de oposição, com base em “informações confidenciais” ou em “relatos do serviço de inteligência da CIA” que o estado de Chávez era terminal, que se havia cometido gravíssimo erro médico de diagnóstico e execução cirúrgica, que o câncer já se espalhara. Enfim, que o presidente não tinha condições de permanecer no cargo e muito menos de governar de Havana, onde estava hospitalizado.

Fizeram ‘tabula rasa’ do comunicado oficial do chanceler Nicolas Maduro de 10 de junho, segundo o qual o presidente sofrera cirurgia de emergência para limpar um abscesso pélvico e desdenharam a manifestação do próprio Chávez em 30 de junho de que tivera de passar por uma segunda cirurgia para extirpar células e tumor cancerígeno. A respeito da doença do presidente seguem dizendo “segundo as versões oficiais insuscetíveis de confirmação” e que a “localização e gravidade, assim como o tratamento e o prognóstico dos médicos são mantidos em segredo”. Georges Pompidou, presidente da França, morreu de macroglobulinemia de Waldenström, um tipo de câncer linfático, no exercício de suas funções; François Mitterand governou boa parte de seus 14 anos de mandato carregando um câncer na próstata; e mais recentemente Fernando Lugo do Paraguai, governa normalmente ainda que portador de linfoma. São alguns exemplos e nenhum deles recebeu o tratamento mórbido de que Chávez é alvo.   

O regresso de Chávez e a incrível manifestação espontânea que reuniu mais de 150 mil pessoas para ouvir o presidente do ‘Balcão do Povo’ do Palácio Miraflores e demonstrar sua imensa alegria, consistiram em resposta contundente àqueles que insistem em desestabilizar o governo. A reação venezuelana e o império esperavam que o afastamento do cenário político e administrativo de Chávez levassem a uma literal paralisia da ação governamental. Para seu imenso desgosto, no mês que Chávez esteve distante de Caracas, antes pelo giro que incluiu Brasília, Quito e Havana e depois pela internação hospitalar, o governo enfrentou galhardamente o desafio e seguiu funcionando normalmente. Não ocorreu nem ingovernabilidade nem vazio de poder nem paralisia de funções nem crise política nem agitação social como prognosticavam a oposição e seus porta-vozes midiáticos.

Insistem agora que as mazelas do país – os descaminhos da economia, a inflação nas alturas, a criminalidade desabrida, a escassez de moradias e o racionamento de energia – se agravaram. São problemas reais, existem e precisam ser combatidos. No entanto, escamoteiam e evitam dizer que nenhum governo do mundo fez tanto em tão pouco tempo pela saúde e educação de seu povo. Venezuela está livre do analfabetismo, mais da metade da população frequenta alguma sala de aula, todo o povo tem acesso gratuito à medicina preventiva, a Missão Vivenda Venezuela está entregando casas para a população pobre, o instituto norte-americano Gallup situou a Venezuela em 6º lugar de bem-estar do mundo, considerando próspero seu nível de vida atual e expectativas futuras, o PIB cresceu 4,5% no 1º trimestre, caiu a taxa de desemprego para 8,1%, o salário mínimo e a distribuição de renda é o mais alto e a melhor da região, a pobreza foi reduzida drasticamente nos últimos 12 anos.

É por tudo isso que o povo venezuelano participou entusiasticamente das comemorações do Bicentenário da Independência da Venezuela, saindo às ruas às dezenas de milhares. Ao vibrar com a parada das forças militares do país, estavam saudando a independência e a soberania atual da Venezuela. Este é, a par da melhoria das condições de vida da população em geral, um dado essencial. Ao abrir o dia festivo de 5 de julho, tendo ao lado os comandantes das Forças Armadas, da Guarda Nacional e da Milícia Popular, o presidente Chávez declarou: “Não tínhamos melhor maneira para comemorar esse dia que o celebrando sendo independentes como somos, já não somos colônia de nenhum império nem o seremos nunca.”

A independência, porém, levou uma década para se consolidar, sendo concretizada finalmente em 24 de junho de 1821 quando as tropas comandadas por Simon Bolívar derrotaram definitivamente as espanholas na Batalha de Carabobo.

Igualmente, a próxima década – de 2011 a 2021 – terá por escopo consolidar o processo revolucionário bolivariano socialista. Chávez deve agora priorizar sua saúde, continuar governando mais apoiado em seus auxiliares e lançar-se com ímpeto na campanha eleitoral de 2012.  Sua visão estratégica, seu elã e capacidade política de gerar iniciativas que fortalecem a união dos povos latino-americanos e do Caribe, como a Alba, Petrocaribe, TeleSur e diversas outras, fazem de Chávez um protagonista na luta pela total independência e integração de Nossa América.

Mas a história ensina também que, ao longo dos próximos anos, faz-se mister que novas lideranças, provadas e capazes, surjam para levar adiante as bandeiras da soberania, da justiça social, da democracia, da paz e fraternidade entre os povos, da mãe-Terra, do socialismo enfim.

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15 de jul. de 2011

Só a luta de classes funciona

Em princípio, não há nada de errado no uso de medidas para eliminar a legislação reacionária, ou usar os tribunais em certas ocasiões para fazer valer os direitos da classe trabalhadora. O que é um erro é depender exclusivamente de tais medidas. Os métodos parlamentar e judicial não podem ser mais do que secundários quando a luta é contra a classe capitalista e o seu Estado. Apenas a luta de classes, que desafia o poder de classe dos patrões e do seu Estado, pode resultar numa vitória significativa e duradoura. 

A luta de vanguarda em Wisconsin contra a ofensiva capitalista que se pretende impor aos trabalhadores e a favor das medidas de austeridade sofreu um duro revés jurídico em 14 de Junho. A Corte Suprema revogou uma ordem judicial contra o projecto de lei anti-sindical convertido em lei em 11 de Março pelo reaccionário governador racista, Scott Walker. 
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O tribunal do condado de Dane, depois de uma grande pressão popular, tinha emitido um mandato e medidas cautelares contra o projecto de lei em 26 de Maio. Mas Walker, o arquitecto do chamado “projecto de lei de reparação do orçamento”, contou com o apoio da classe capitalista e impôs-se no Tribunal Superior. 
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O problema não é apenas a decisão do tribunal. A questão básica a ser perguntada por sindicalistas, líderes das comunidades oprimidas, estudantes e jovens militantes, todos os que impulsionaram esta grande luta, é a seguinte:

Como pode o movimento operário organizado e os seus aliados permitirem que uma decisão de um pequeno grupo de juízes num tribunal capitalista anule as acções e exigências de centenas de milhares de trabalhadores de Wisconsin - organizados ou não, empregados ou desempregados, imigrantes, agricultores, jovens e estudantes, organizações comunitárias - que estiveram em elevado estado de mobilização desde a ocupação do Capitólio em 14 de Fevereiro? 
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Esta lei draconiana acaba com a negociação colectiva dos trabalhadores do sector público. Estabelece as mesmas disposições (anti-sindicais) que prevalecem nos chamados ” estados com direito ao trabalho” do sul dos USA. De acordo com as disposições do orçamento associado, serão retirados 800 milhões dólares ou mais dos serviços públicos - incluindo a educação, alimentação, saúde e assistência habitacional. Centenas de milhões de dólares serão dados aos ricos em incentivos fiscais e contratos. 
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A mobilização dos trabalhadores de Wisconsin durante quatro meses foi um dos maiores actos de força e organização contínua dos sindicatos nas últimas décadas. Inspirou solidariedade nacional e internacional e um aumento do apoio público para os sindicatos. 
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A ocupação de 18 dias do Capitólio e concentrações em massa atingiu o ponto máximo em 12 de Março, quando cerca de 185 mil pessoas cercaram o Capitólio, em Madison. 
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Perante isto como pode um conjunto de leis impopulares impor-se a milhões de pessoas?

Isto não terminou
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Não é tarde demais para fazer estas perguntas. Um capítulo da luta de Wisconsin pode ter sido concluído, mas os ataques persistem. A possibilidade de se reabrir a batalha pode voltar em breve. 
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A resposta curta é que a luta tinha que passar de uma pressão puramente política de manifestações de massa, para a luta de classes directa, onde o governo, empresários e banqueiros teriam que parar ou fazê-los pagar um preço elevado. 
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Grande entusiasmo e esperança ocorreu quando a Federação dos Sindicatos Centro Sul de Wisconsin, que representa 45 mil trabalhadores, votou a favor das medidas tomadas pelos sindicatos para se preparar para uma greve geral se a lei fosse aprovada. Esta votação ocorreu depois de uma manifestação de 100.000 pessoas dois dias antes, no Capitólio.
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A notícia de uma greve geral em Wisconsin afectou o movimento operário do país. Muitas vezes, grupos radicais exigem que o movimento sindical convoque uma greve geral sem levar em conta as condições reais. Mas, pela primeira vez em anos, pareciam estar acontecendo estas condições e até mesmo uma importante federação sindical discutiu o assunto.
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Na semana seguinte, 26 de Fevereiro, as manifestações em Madison cresceram em dimensão chegando a 150.000 pessoas. Manifestações de solidariedade foram realizadas em todos os 50 estados. Delegações chegaram a Madison vindas de longe, incluindo um avião cheio de sindicalistas de Los Angeles.
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Com uma manobra parlamentar ilegal, os republicanos aprovaram a lei anti-sindical e em 11 de Março o governador Walker assinou-a. No dia seguinte, deu-se a maior manifestação até ao momento, em que a AFL-CIO estimou que 185 mil pessoas tinham participado, incluindo uma grande delegação de agricultores de Wisconsin com os seus tractores.
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Nesse momento tornou-se muito claro que nenhum tipo de pressão política ia demover Walker, os republicanos ou a classe dominante por trás deles.
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As manifestações atingiram intensidade máxima. A lei foi aprovada. As bases e os dirigentes sindicais de nível mais baixo esperavam para ver, agora que se havia aprovado o projecto de lei, qual seria o próximo passo.
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Uma opção era voltar a ocupar o Capitólio com concentrações de massas. A ocupação terminara por uma combinação de mentiras e enganos de funcionários do governo e sindicatos, que ajudaram a convencer os estudantes e trabalhadores a deixar o edifício.
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Haveria ânimo para uma proposta de greve geral? O projecto de lei não foi suspenso nem anulado. A luta deveria ser intensificada.
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O site da Federação Sul-Central de Wisconsin publicou uma explicação detalhada de como o movimento operário, em Ontário, no Canadá, levou a cabo entre 1995 e 1998, onze dias de acções. Estas greves gerais tinham derrotado um duro programa de austeridade e de medidas anti-sindicais.
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Os líderes da luta de Ontário descreveram em detalhe a forma de superar as divisões entre os sindicatos e a criação de alianças com organizações comunitárias e movimentos sociais. Mostraram como criar comités de greve com o esforço conjunto dos sindicatos e da comunidade. Isto é muito importante em Wisconsin porque, apesar de o centro da luta ser em Madison, os negros, latinos e comunidades de imigrantes, documentados ou não, serão fundamentais para qualquer luta bem sucedida contra o governo.
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Educar os trabalhadores brancos na solidariedade com as comunidades oprimidas será fundamental. Os dirigentes sindicais de Ontário mostraram como conduzir uma campanha sustentada para educar membros do sindicato em salas de aula, casas, bares e cafés. Eles explicavam como superar os diferentes estilos de organização entre os grupos comunitários e sindicatos, lidando com o governo, a polícia, os empregadores, os meios de comunicação, etc.
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Descreviam a forma de organizar serviços de transporte, serviços médicos de emergência, como treinar para os piquetes; dividir a cidade em zonas; criar planos de curto e longo prazo e como estabelecer um órgão administrativo para organizar e dirigir a greve. 
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Mais importante foram os exemplos de como o movimento canadiano se recusou a reconhecer que a violação de direitos dos trabalhadores era “legal” e em vez disso, disse que a luta em si é que o era. 
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Assim, embora os líderes sindicais no país, basicamente, não tivessem nenhuma experiência em convocar uma greve geral, tinham disponível uma abundância de informações sobre como fazê-lo. 
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No entanto, no site de Wisconsin, ao lado do documento sobre a greve geral, havia um memorando sobre os direitos legais, que praticamente declarava que qualquer acção a favor de uma greve geral ou de qualquer greve contra o Estado era ilegal e poderia pôr o sindicato e seus membros em risco de multas e prisões. 
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Nesta difícil situação, a liderança sindical em Wisconsin permaneceu em silêncio sobre a greve geral. Em vez disso, voltou a atenção para o movimento para destituir os legisladores republicanos e para a possibilidade de o Tribunal anular a lei.
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Todo o peso da decisão de convocar uma greve geral não pode ser deixado exclusivamente sobre os ombros dos dirigentes. Para tomar uma decisão tão importante, a liderança estadual e municipal deve saber que estão a desafiar a classe dominante inteira. Era obrigatório para a liderança sindical nacional declarar abertamente que apoiava incondicionalmente uma luta crucial em que o destino dos funcionários públicos estava em jogo. No entanto o presidente da AFL-CIO Richard Trumka aparecia em reuniões para apoiar os trabalhadores nunca apontando na direcção da luta de classes, mas mantendo a linha de apoio ao Partido Democrata. 
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Os trabalhadores nunca foram derrotados em qualquer grande batalha de classe contra o estado capitalista. O revés foi o resultado da falta de os líderes sindicais em usarem a força, energia e determinação mostradas pelos trabalhadores, para superar as falsas alegações de “legalidade” capitalista determinados pelos legisladores e pelos tribunais. Em vez disso, os líderes aceitaram as decisões capitalistas.
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Em princípio, não há nada de errado no uso de medidas para eliminar a legislação reaccionária ou usar os tribunais em certas ocasiões para fazer valer os direitos da classe trabalhadora.
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O que é um erro é depender exclusivamente de tais medidas. Os métodos parlamentar e judicial não podem ser mais do que secundários quando a luta é contra a classe capitalista e o seu estado. Apenas a luta de classes, que desafia o poder de classe dos patrões e do seu Estado, pode resultar numa vitória significativa e duradoura. 
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A única maneira de conseguir essa vitória é que os membros de base do movimento operário se organizem de baixo para cima, construindo comités para promover a luta de classes contra os patrões e seu Estado e forçar os líderes sindicais a lutar ou, caso contrário, afastá-los e assumir os sindicatos a partir de baixo. 
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Tradução do Inglês para o espanhol para Workers World (EUA)
Tradução de espanhol: Guilherme Coelho


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13 de jul. de 2011

O que a mídia privada mostra é o que os donos pagam

Laerte Braga

Há uma guerra imunda sendo travada contra os líbios. O governo francês armou os “rebeldes” para enfrentar as forças do líder Muammar Kadafi e a OTAN proclama que seus bombardeios atingem instalações militares do governo daquele país.
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Um relatório da ANISTIA INTERNACIONAL divulgado na Europa e convenientemente omitido no Brasil – a turma recebe para não divulgar – mostra que os ataques de um dos tentáculos de EUA/ISRAEL TERRORISMO S/A contra os líbios atingem alvos civis, matam crianças, destroem hospitais, são inconsequentes e têm como objetivo destruir a infra estrutura do país. Física e humana.
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Embaixadores norte-americanos no Brasil têm o hábito de reuniões com jornalistas. É o que mostra o WIKILEAKS. William Waack da GLOBO é um dos mais estimados, digamos assim. A despeito de ter errado redondamente nas avaliações que fez das eleições presidenciais de 2010 no Brasil – encantou Hillary Clinton com sua verborragia e submissão – continua participando de reuniões, encontros, ágapes em “negócios” que os EUA têm interesses diretos, para depois veicular em seu JORNAL DA NOITE, ou em programas da GLOBONEWS (canal fechado) aquilo que foi determinado, é do agrado dos que pagam.
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Num estúdio de tevê o telespectador enxerga o cenário do programa apresentado e nesse cenário o que é interesse da emissora. Nos programas de William Waack não mostram os pés dos embaixadores brasileiros convidados para emitir opiniões sobre essa ou aquela situação. Caso de Celso Láfer, ou do próprio apresentador. É que estão todos descalços controlados pela embaixada dos EUA. Submetem-se a revista prévia por agentes especializados. Só depois sai o contracheque.
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Num telegrama de 2005 o cônsul norte-americano em São Paulo (país vizinho que fala a mesma língua e é controlado pelo esquema FIESP/DASLU) conta a visita do embaixador de seu país John Danilovich a Porto Alegre e o encontro com diretores da RBS – REDE BRASIL SUL – num almoço particular com os editores do grupo.  A RBS é o maior grupo regional de comunicação da América latina e ligado à GLOBO.
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Os objetivos eram dois. A defesa dos “negócios” segundo a ótica dos EUA e de Israel, evitando notícias sobre o crime de genocídio que vem sendo cometido desde a invenção do Estado pelas grandes potências contra os palestinos. Os resultados foram satisfatórios. O compromisso foi selado.
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O embaixador foi agraciado com uma entrevista no jornal ZERO HORA e em emissoras de rádio e tevê do grupo. Esse mesmo embaixador encontrou-se com líderes da comunidade judaica em Porto Alegre e jornalistas, presente o rabino Henry Sobel (aquele que teve uma crise e roubou uma gravata numa loja de New York e acabou passando uns dias na cadeia). No encontro estava presente Abraham Goldstein, presidente da B’nai Brith do Brasil e que garantiu que a mídia faria campanha para garantir pontos de vista favoráveis ao estado invasor e terrorista de Israel e a comunidade de judeus no Brasil.
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O mesmo Goldstein garantiu que o editor do ESTADO DE SÃO PAULO assegurou campanha favorável a Israel. Essa campanha tinha como objetivo buscar não judeus críticos do secretário de Assuntos Estratégicos do governo de Lula, o embaixador Samuel Pinheiro Guimarães, considerado anti-sionista. Essa importante Secretaria no governo Dilma foi comprada pelo PMDB e está em mãos de Wellington Moreira Franco, político de “grande competência” e “reputação ilibada”. Tem certificado fornecido por Washington, por Wall Street e paraísos fiscais para dinheiro público roubado.
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Um ex-ombudsman do JORNAL FOLHA DE SÃO PAULO (partícipe ativo da ditadura militar na desova de corpos de presos políticos assassinados nos porões do regime) Carlos Eduardo Lins e Silva é outro “patriota” que tem o hábito de conversar com os diplomatas norte-americanos. Entrega o ouro e de quebra se compromete a defender a matança de palestinos.  Esteve, como mostra o WIKILEAKS, com o Assistente do Departamento de Estado para Assuntos Econômicos no Fórum Econômico Mundial América Latina, em 2006. Errou feito também em suas previsões ao apresentar o governador Geraldo Alckmin, coroinha da OPUS DEI, como um candidato de “grande viabilidade” às eleições presidenciais daquele ano.
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Participou de um encontro com o senador republicano Chuck Hagel, em São Paulo, onde estava Celso Láfer (ministro das Relações Exteriores do governo FHC que tirou os sapatos nos aeroporto de New York para ser revistado). No mesmo encontro estavam Rubens Ricúpero, ex-ministro da Fazenda do governo Itamar, embaixador do Brasil nos EUA e Sérgio Amaral, também ex-ministro de FHC.
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Quando do início das descobertas do pré-sal o jornalista esteve reunido com o cônsul geral dos EUA Thomas White. Discutiram planos para a exploração do petróleo, campanhas para a entrega. Noutro encontro juntaram-se o sociólogo Bolívar Lamounier, Celso Láfer, e o ex-ministro da Ciência e Tecnologia de FHC, José Goldemberg. Essa foi uma reunião com o Arturo Valenzuela, secretário assistente para assuntos do Hemisfério Ocidental.
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O cientista político Bolívar Lamounier e José Augusto Guilhon de Albuquerque aparecem noutra “reunião” com norte-americanos, onde foram apresentados como “acadêmicos ligados ao PSDB”. O partido é um dos principais braços do complexo EUA/ISRAEL TERRORISMO S/A no Brasil.
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Os dois acertaram a previsão que Lula elegeria seu sucessor, mas seria necessário buscar apoio no PMDB classificado como um partido que “é sempre problema, nunca a solução, porque não tem nenhuma identidade política nem ideológica e existe com o único propósito de avançar em interesses pessoais para seus membros”.
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Aí Dilma correu lá e chamou Moreira Franco, entre outras peças das máfias que formam o partido (existe gente decente sim, mas 0,00000000001%).
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Nesse encontro estava o embaixador Cliford Sobel, dos EUA lógico, que ao final relatou aos seus superiores que ficou acertada uma cobertura positiva para os Estados Unidos, inclusive nas manobras militares entre as marinhas de três países. A dos EUA e as auxiliares, do Brasil e da Argentina.
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O jornalista Fernando Rodrigues, repórter político especial do jornal FOLHA DE SÃO PAULO, foi procurado duas vezes para analisar questões relativas ao Brasil. O funcionamento do Tribunal de Contas e uma eleição para a presidência da Câmara dos Deputados, onde o deputado Aldo Rebelo – pró-EUA, relator do Código Florestal, no bolso dos latifundiários, da bancada do PC do B) concorria.
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Como se vê, toda aquela proclamada liberdade de expressão da mídia brasileira pode ser encontrada nos livros caixas da embaixada e consulados norte-americanos, grupos sionistas do Estado invasor de Israel, imaginem quanto a revista VEJA – a líder em podridão explícita – deve ter recebido para a matéria onde afirma que muçulmanos são terroristas e que agem no Brasil com conhecimento do governo.
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Na realidade os que agem aqui são outros. Os da MOSSAD – serviço terrorista do Estado invasor de Israel –, da CIA e embaixadores e funcionários dos EUA, no serviço de “amaciar “jornalistas e empresas privadas de comunicações.
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O que o brasileiro lê, escuta ou vê na mídia privada é aquilo que foi pago pelos donos. A liberdade de expressão dessa gente se resume aos “negócios e Dilma Rousseff vai entregar a Banda Larga às teles num ato criminoso e de pura traição a tudo o que foi dito durante sua campanha eleitoral. É tucana, disfarçou-se para ser o poste que, segundo Delfim Neto, Lula elegeria – “Lula elege até um poste” –. Elegeu uma tucana com roupagem petista.
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Um dos momentos de rara felicidade no jornalismo brasileiro foi quando Paulo Henrique Amorim definiu essa mídia – PIG, o PARTIDO DA IMPRENSA GOLPISTA. E outro, anterior a essa definição precisa, quando o jornalista Millôr Fernandes afirmou ainda na revista O CRUZEIRO, que “a corrupção começa no cafezinho”. Estava definindo o jornalista venal.

Fonte: http://www.diarioliberdade.org/

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12 de jul. de 2011

A Semana no Olhar Comunista - 0002

O "espetáculo do endividamento" mostra suas consequências

Foi divulgado ontem (11 de julho) que a inadimplência dos consumidores avançou 22,3% no primeiro semestre de 2011, na comparação com o mesmo período do ano passado. Trata-se do maior aumento dos últimos nove anos, indica o Serasa - segundo o qual, a alta do não pagamento de dívidas ocorreu em quase todas as modalidades.
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Para os economistas da instituição, o consumidor atualmente "enfrenta uma redução no poder aquisitivo e o crescente endividamento dificulta o pagamento das dívidas assumidas anteriormente". Dessa forma, o forte crescimento da inadimplência "é justificado pelos efeitos da política monetária para controle da inflação, alta dos juros, IOF (Imposto sobre Operações Financeiras) e encarecimento do crédito", apontou o Serasa em comunicado.
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O que eles não afirmam - e não seria diferente - é que a política de geração de crescimento econômico baseado em aumento crescente da dívida das famílias, acima das elevações de renda, só poderia gerar fatos como esse. A notícia demonstra claramente que a tão propalada elevação da qualidade de vida no Brasil não possui bases sólidas, por estar baseada em uma política que onera o futuro para elevar o consumismo no presente.
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TOMA LÁ, DÁ CÁ I
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Odebrecht e governo: ganhos para construir e "destruir"
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A estreita relação entre a Odebrecht e o governo federal não se resume ao superfaturamento de obras, utilização da política externa brasileira como "caixeiro viajante" de seus intertesses no mundo, principalmente na América Latina, e os aportes financeiros em campanhas eleitorais.
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As faturas também são trocadas na área de Defesa, para o qual a companhia criou um braço recentemente com o objetivo de entrar na briga pelo fornecimento dos sistemas de inteligência e comunicação militar para a Copa de 2014. O pacote deve superar os R$ 2 bilhões.
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Além disso, a Odebrecht é sócia na construção dos cinco submarinos contratados pelo Brasil junto à França – negócio avaliado em R$ 21,4 bilhões. Provavelmente como parte de sua comissão, atual ou futura, o ministro da Defesa, Nelson Jobim, proferiu no dia 24 de maio deste ano uma palestra em São Paulo para o Conselho de Administração da companhia, intitulado “O Futuro da Defesa no Brasil”. A notícia foi veiculada na última semana na revista Isto É.
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TOMA LÁ, DÁ CÁ II
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Financiamento privado de campanha dá nisso...
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Os principais doadores de campanha do PR, partido que tinha Alfredo Nascimento no controle do Ministério dos Transportes até a comprovação de casos de corrupção levarem à queda do ministro, receberam em 2010 - ano eleitoral - R$ 986,2 milhões de órgãos vinculados à pasta.
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Segundo matéria de O Globo, Queiroz Galvão, Sanches Tripoloni e Andrade Gutierrez "abasteceram os cofres" do PR com quase R$ 6 milhões no mesmo ano. As três empreiteiras são beneficiárias em obras gerenciadas pelo Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit) e pela Valec, estatal que cuida das ferrovias, com suspeitas de sobrepreço, superfaturamento e outras irregularidades, na avaliação do Tribunal de Contas da União (TCU).
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Envolvida nas obras da Ferrovia Norte-Sul, sob investigação do TCU e da Polícia Federal, a Queiroz Galvão doou R$ 2 milhões ao PR após ter recebido R$ 348,1 milhões do Dnit e R$ 52,5 milhões da Valec. Em 2010 e 2011 (até a última semana), as quantias foram R$ 258,3 milhões e R$ 84,4 milhões.
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Já a Sanches Tripoloni (R$ 2 milhões de comissão para o PR), recebeu do Dnit tudo o que faturou em contratos com a União desde 2009: R$ 468,14 milhões. A empresa faz parte do consórcio do Contorno Norte de Maringá, que teve sobrepreço de R$ 9,9 milhões segundo o TCU.
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Já a Andrade Gutierrez (R$ 1,7 milhão de comissão ao PR), recebeu R$ 679,95 milhões do governo desde 2009, 83% do Dnit e da Valec e tem obras sob investigação do TCU, como o Arco Metropolitano do Rio. Além disso, foi obrigada a devolver R$ 1,3 milhão por superfaturamento na obra de um trecho rodoviário entre Mato Grosso e Pará.
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Ensino "privada"
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Foram 90 as instituições de ensino que não conseguiram aprovar nenhum aluno na última edição do exame da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB). A grande maioria recebe bolsas do ProUni - programa do MEC para incluir alunos de baixa renda nas instituições privadas de ensino superior.
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Tentando tapar o sol com a peneira, o secretário da Educação Superior do MEC, Luiz Cláudio Costa, afirmou que o Sistema Nacional de Avaliação da Educação Superior (Sinaes), feito anualmente, leva em conta vários indicadores, sem incluir o exame da OAB. “O Ministério se preocupa muito com a qualidade. O exame da OAB é um exame importante, serve como referência mas não é um indicador. O nosso sistema de avaliação é extremamente sério, rigoroso, e que leva em consideração uma série de dimensões. Seria desaconselhável considerar um único fator”, vaticinou o responsável do Ministério, que parece crer que as instituições “privadas” de ensino superior primam pela qualidade.
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Por outro lado, tiveram maior percentual de aprovação as públicas Universidade de Brasília (67,44%), Federal de Juiz de Fora (67,35%) e Universidade de São Paulo (63,4%). Das 22 universidades com o melhor desempenho no exame, apenas três são privadas.
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Contra previsão, desemprego sobe nos EUA
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Esta é a manchete da matéria da Folha de São Paulo, de 09/07/2011, que registra o crescimento da taxa oficial de desemprego para 9,2%, naquele país, em junho, contra 9,1 de maio (os negros e jovens são os mais atingidos), apesar de terem sido criados mais 18 mil empregos no último mês. O texto fala da reação – negativa – das principais bolsas de valores do mundo à notícia, e aponta para o fraco desempenho do setor de construção civil (com 15,7% de desemprego, o pior índice), e do setor público, que teve 39 mil postos de trabalho fechados (14 mil só no governo federal).
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Os números revelam não apenas a gravidade da crise como a sua complexidade: embora alguns setores estejam apresentando melhoras, outros ainda sofrem com as “ondas” negativas iniciais de queda de investimentos e do conseqüente desemprego gerado, que tendem a se “espalhar” e multiplicar, por toda a economia, em levas sucessivas; mostram também as grandes contradições das políticas públicas adotadas pelo governo Obama para equilibrar o orçamento federal e combater o desemprego e a crise, que, ao mesmo tempo em que injetam vultosos recursos para alavancar o setor privado – em empresas como a GM (que estava falida em 2008) e grandes bancos privados (que obtiveram lucros elevados em 2010) –, cortam gastos públicos em áreas sociais e demitem trabalhadores do Estado, realimentando, assim o próprio desemprego e fazendo cair a arrecadação de imposto.
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Essas contradições são reveladoras da natureza sistêmica da crise econômica mundial – uma crise do capitalismo em si – e da fortíssima influência das grandes empresas dos EUA no poder político do país, e indicam também o confronto cada vez mais acirrado entre os interesses dos grandes grupos privados e a maioria da população, os trabalhadores americanos, que terá, em breve, um novo grande embate no processo de negociação da dívida pública e sua possível extensão, que logo entrará em pauta no Congresso.
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Gol compra Webjet e assume 40,5% do setor
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Anunciada em toda a grande mídia, esta operação, que ainda depende de autorização da Agência Nacional de Aviação Civil – responsável pela regulação do setor aéreo – e do Conselho de Defesa da Economia – o CADE, órgão público responsável pela preservação da livre concorrência na economia – movimentou 96 milhões de Reais e envolve a assunção, pela Gol, das dívidas da Webjet, orçadas em 214,7 milhões de Reais. O negócio foi bem recebido no mercado, e as ações da Gol subiram 3,5 % na Bolsa de Valores.
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O principal prejuízo para os clientes, de acordo com a matéria da Folha de São Paulo, de 09/07/2011, será a elevação nos preços das passagens da Webjet, que eram, em geral, mais baixos que a média do mercado, sendo esta, aliada à venda de passagens pela Internet, a principal estratégia de concorrência da empresa (a mesma utilizada, anos atrás, pela própria Gol).
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A aquisição de empresas em dificuldade por outra empresa em melhor situação e a fusão entre empresas faz parte da lógica geral de acumulação de capital, é um resultado do processo de concorrência, onde há vencedores e perdedores, sendo a “livre concorrência” e as vantagens para os consumidores, pelos preços mais baixos que as empresas tendem a oferecer, nessa fase, um efeito transitório: com a concentração do mercado, as empresas, maiores e em menor número, tendem a impor preços mais elevados e a buscar menores custos pela “racionalização” de suas operações (com o compartilhamento de instalações comuns, a “otimização” das rotas (com a eliminação dos trajetos menos lucrativos, a redução dos vôos diretos) e a demissões dos funcionários “excedentes”, ale, é claro, da redução dos salários dos remanescentes), entre outras medidas. O combate efetivo a este processo só pode ser feito com a estatização, ao menos parcial, do setor, para que, cobrando preços mais reduzidos, operando em melhores condições, oferecendo melhor assistência os usuários e garantindo o atendimento de todas as rotas necessárias, o setor possa ser mais benéfico para o interesse da população brasileira.
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Presidente do Chile lança fundo de US$ 4 bilhões para tentar conter manifestações de estudantes.
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No noticiado pelo jornal “O Globo”, em 05 de julho, a medida editada pelo presidente Piñera tem a intenção de “melhorar o acesso e a qualidade do financiamento aos estudantes, melhorar o sistema de informação e fiscalização do ensino universitário e criar uma subsecretaria para o ensino superior”. Piñera também prometeu aumentar o número de bolsas de estudo para o nível técnico (ensino médio) de 70 mil para 120 mil.
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Milhares de estudantes e boa parte da sociedade chilena têm se manifestado nas ruas, e muitos colégios de ensino médio se mantém ocupados. As principais reivindicações apresentadas são o fim dos lucros dos proprietários de estabelecimentos de ensino, o uso da renda da exploração de recursos naturais para financiar a educação e a realização de um plebiscito para decidir a questão.
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As medidas anunciadas pelo governo são uma prova evidente da força do movimento popular. No entanto, tratam-se de medidas que, embora representem alguns avanços, não apontam para a superação do quadro atual da Educação chilena, uma quadro gestado no governo ditatorial de Pinochet e mantido nos governos democráticos seguintes, que reconduziram o Chile à condição de Estado democrático de Direito – formalmente – mas não alteraram a estrutura privada quase totalidade dos setores da economia e das atividades sociais no país e tampouco deixaram de lado as políticas neoliberais correspondentes.
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Os manifestantes não querem mais dinheiro público sendo investido nas empresas privadas de educação, e identificam, no quadro atual, o elitismo e a exclusão operada contra a maioria da população pela via da cobrança de elevadas taxas de matrícula e mensalidades pelas escolas e universidades. Querem, isto sim, a promoção da Educação pública, estatal, gratuita e de qualidade para todos, um direito fundamental para todas as sociedades.
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Vaticano vai revelar arquivos secretos em mostra inédita
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A matéria, veiculada em O Globo, de 06 / 07 / 2011, traz a informação de que 100 documentos dos arquivos secretos da Santa Sé, alguns sobre temas bastante delicados da Igreja Católica, como os debates de Galileu e o papel do papa Pio XII (acusado de omissão frente ao Holocausto e outros fatos) durante a II Guerra Mundial serão exibidos em mostra pública a ser realizada em fevereiro de 2012.
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A exibição pública de documentos históricos pela Igreja católica é uma mostra do processo de secularização daquela instituição que contribui para o melhor entendimento de seu importante papel na história da civilização ocidental. Enquanto isso, no Brasil, falar em abertura de arquivos oficiais com informações sobre a história do país é um assunto que mantém-se como um dogma.
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