30 de mar. de 2011

Os super-ricos do mundo

James Petras 

Os multimilionários prosperam e as desigualdades aprofundam-se quando as economias "recuperam"

As operações de salvamento de bancos, especuladores e industriais cumpriram o seu verdadeiro objectivo: os milionários passaram a multimilionários e estes ficaram ainda mais ricos. Segundo o relatório anual da revista de negócios Forbes, há 1210 indivíduos – e em muitos casos clãs familiares – com um valor líquido de mil milhões de dólares (ou mais). O seu valor líquido total é de 4,5 milhões de milhões de dólares, maior do que o valor total de 4 mil milhões de pessoas em todo o mundo. A actual concentração de riqueza ultrapassa qualquer período anterior da história; desde o Rei Midas, os Marajás, e os Barões Ladrões [1] até aos magnates de Silicon Valley [2] e Wall Street na actual década.

Uma análise da origem da riqueza dos super-ricos, a sua distribuição na economia mundial e os métodos de acumulação esclarece diversas diferenças importantes com profundas consequências políticas. Vamos identificar essas características especiais dos super-ricos, a começar pelos Estados Unidos e faremos depois uma análise ao resto do mundo.

Os super-ricos nos Estados Unidos: os maiores parasitas vivos

Os EUA têm a maior parte dos multimilionários do mundo (413), mais de um terço do total, a maior proporção entre os grandes países do mundo. Um olhar mais de perto também revela que, entre os 200 multimilionários do topo (os que têm 5,2 mil milhões de dólares ou mais), 57 são dos EUA (29%). Mais de um terço fez fortuna através da actividade especulativa, da predação da economia produtiva e da exploração do mercado imobiliário e de acções. Esta é a percentagem mais alta de qualquer dos principais países na Europa ou na Ásia (com a excepção da Inglaterra). A enorme concentração de riqueza nas mãos desta pequena classe dirigente parasita é uma das razões por que os EUA têm as piores desigualdades de qualquer economia avançada e se situa entre as piores em todo o mundo. Os especuladores não empregam trabalhadores, servem-se de expedientes fiscais e de operações de salvamento e depois pressionam cortes no orçamento social, dado que não precisam de uma força de trabalho saudável e instruída (excepto no que se refere a uma pequena elite). Em 1976, 1% da população mundial detinha 20% da riqueza; em 2007 dominava 35% da riqueza total. Oitenta por cento dos americanos possuem apenas 15% da riqueza. As recentes crises económicas, que inicialmente reduziram a riqueza total do país, fizeram-no de modo desigual – atingindo de modo mais grave a maioria dos operários e empregados. A operação de salvamento Bush-Obama levou à recuperação económica, não da "economia em geral", mas restringiu-se a reforçar ainda mais a riqueza dos multimilionários – o que explica porque é que a taxa de desemprego e subemprego ficou praticamente na mesma, porque é que a dívida fiscal e o défice comercial aumentam e o estado baixa os impostos às grandes empresas e reduz os orçamentos municipais, estatais e federais. O sector "dinâmico" formado por capitalistas parasitas emprega menos trabalhadores, não exporta produtos, paga impostos mais baixos e impõem maiores cortes nas despesas sociais para os trabalhadores produtivos. No caso dos multimilionários dos EUA, a sua riqueza é fortemente acrescida através da pilhagem do erário público e da economia produtiva e através da especulação no sector das tecnologias de informação que alberga um quinto dos multimilionários do topo.

BRIC: Os novos multimilionários: A explorar o trabalho da natureza

Os principais países capitalistas emergentes, Brasil, Rússia, Índia e China (BRIC), elogiados pelos meios de comunicação pelo seu rápido crescimento na última década, estão a produzir multimilionários a um ritmo mais rápido do que qualquer bloco de países do mundo. Segundo os últimos dados no Forbes (Março de 2011), o número de multimilionários no BRIC aumentou mais de 56% de 193 em 2010 para 301 em 2011, ultrapassando os da Europa.

O forte crescimento do BRIC levou à concentração e centralização de capital, em todos os casos promovidos pelas políticas de estado que proporcionam empréstimos a juros baixos, subsídios, incentivos fiscais, exploração ilimitada de recursos naturais e mão-de-obra, expropriação dos pequenos proprietários e privatização de empresas públicas.

O crescimento dinâmico de multimilionários no BRIC levou às desigualdades mais flagrantes em todo o mundo. Nos países do BRIC, a China lidera o caminho com o maior número de multimilionários (115) e as piores desigualdades em toda a Ásia, em profundo contraste com o seu passado comunista quando era o país mais igualitário do mundo. Um exame da origem da riqueza dos super ricos na China revela que provém da exploração da força de trabalho no sector da manufactura, da especulação no imobiliário e da construção e comércio. EM 2011, A China ultrapassou os EUA enquanto maior fabricante do mundo, em consequência da super-exploração da mão-de-obra na China e do crescimento de capital financeiro parasitário nos EUA.

Em contraste com os EUA, a classe trabalhadora da China está a fazer incursões significativas nas receitas da sua elite de manufacturas e de imobiliário. Em consequência da luta da classe trabalhadora, os salários têm vindo a aumentar entre 10% a 20% nos últimos 5 anos; os protestos dos agricultores e das famílias urbanas contra as expropriações feitas pelos especuladores imobiliários e sancionadas pelo estado ultrapassaram os 100 mil por ano.

A riqueza dos multimilionários russos, por outro lado, resultou do violento roubo dos recursos públicos (petróleo, gás, alumínio, ferro, aço, etc.), explorados pelo anterior regime. A grande maioria dos multimilionários russos depende da exportação de bens, da pilhagem e da devastação do ambiente natural sob um regime corrupto e sem regulamentação. O contraste entre as condições de vida e de trabalho entre os multimilionários virados para o ocidente e a classe trabalhadora russa é sobretudo o resultado do escoamento da riqueza para contas ultramarinas, investimentos offshore e luxos pessoais extraordinários, incluindo propriedades de muitos milhões de dólares. Em contraste com a elite industrial da China, os multimilionários da Rússia parecem-se com os 'senhorios' parasitas que se encontram entre os especuladores de Wall Street e os xeiques do Golfo Pérsico.

Os multimilionários da Índia são uma mistura de ricos antigos e novos ricos que amontoam a sua riqueza através da exploração dos trabalhadores industriais de salários baixos, das populações de bairros pobres expropriados e dos povos tribais, assim como da posse diversificada de imobiliário, tecnologia informática e software. Os multimilionários da Índia acumularam a sua riqueza através das suas ligações familiares com os escalões mais altos, muito corruptos, da classe política, assegurando monopólios através de contratos com o estado. O forte crescimento da Índia na última década (7% em média) e a explosão de multimilionários de 55 para 2011, estão ambos ligados às políticas neo-liberais de desregulamentação, privatização e globalização, que concentraram a riqueza no topo, corroeram os produtores em pequena escala e espoliaram dezenas de milhões.

A classe multimilionária do Brasil aumentou rapidamente, em particular sob a direcção do Partido dos Trabalhadores, para 29, acima do número de um só dígito uma década antes. Hoje, mais de dois terços dos multimilionários da América Latina são brasileiros. A peça central da riqueza dos super ricos do Brasil é o sector finanças-banca que beneficiou fortemente das políticas monetária, fiscal e neo-liberal do regime de Lula da Silva. Os banqueiros multimilionários têm sido os principais beneficiários da economia de exportação agro-mineral que floresceu na última década, à custa do sector de manufacturas. Apesar das afirmações dos líderes do Partido dos Trabalhadores, as desigualdades de classe entre a massa dos trabalhadores de salário mínimo (380 dólares por mês em Março de 2011) e os super-ricos continuam a ser as piores da América Latina. Uma análise da origem da riqueza entre os multimilionários brasileiros revela que 60% aumentaram a sua riqueza no sector finanças, imobiliário e seguros (FIRE) e só um deles (3%) no sector de capital ou manufactura intermédia. A explosão do Brasil em crescimento económico e em multimilionários encaixa no perfil de uma 'economia colonial': com grande peso no consumo excessivo, na exportação de bens e presidido por um sector financeiro dominante que promove políticas neoliberais. No decurso da última década, apesar do teatro político populista e dos programas de pobreza paternalistas patrocinados pelo Partido dos Trabalhadores "centro-esquerda", o principal resultado sócio-económico foi o crescimento duma classe de multimilionários "super-ricos" concentrados na banca com poderosas ligações aos sectores do agro-mineral. A classe financeira-agro-mineral, de forte crescimento via mercado livre, degradou o sector de manufactura, principalmente os têxteis e os sapatos, assim como os produtores de bens de capital e intermédios.

Os países BRIC estão a produzir mais, e a crescer mais depressa do que as potências imperialistas estabelecidas na Europa e nos EUA, mas também estão a produzir desigualdades e concentrações monstruosas de riqueza. As consequências sócio-económicas já se manifestaram no aumento do conflito de classes, principalmente na China e na Índia, onde a exploração intensiva e a expropriação provocaram a acção das massas. A elite política chinesa parece estar mais consciente da ameaça política colocada pela concentração crescente da riqueza e encontra-se em vias de promover aumentos substanciais de salários e um maior consumo local que parece estar a reduzir as margens de lucro nalguns sectores da elite de manufacturas. Talvez que a 'memória histórica' da 'revolução cultural' e a herança maoista desempenhe o seu papel no alerta da elite política para os perigos políticos resultantes dos "excessos capitalistas" associados aos altos níveis de exploração e ao rápido crescimento duma classe de clãs politicamente relacionados, baseados em multimilionários.

Médio Oriente

Na última década, o país mais dinâmico no Médio Oriente foi a Turquia. Dirigido por um regime democrático liberal de inspiração islâmica, a Turquia tem liderado a região no crescimento do PIB e na produção de multimilionários. O desempenho económico turco tem sido apresentado pelo Banco Mundial e pelo FMI como um modelo para os regimes pós ditatoriais no mundo árabe – de 'alto crescimento', uma economia diversificada baseada na crescente concentração de riqueza. A Turquia tem mais 35% de multimilionários (37) do que os estados do Golfo e do Norte de África em conjunto (24). O 'segredo' do crescimento turco é as altas taxas de investimento em diversas indústrias e a exploração intensiva da força de trabalho. Muitos multimilionários turcos (14) obtêm a sua riqueza através de 'conglomerados', investimentos em diversos sectores de manufactura, finança e construção. Para além dos multimilionários de 'conglomerados', há 'multimilionários especialistas' que acumularam a sua riqueza a partir da banca, da construção e do processamento de alimentos. Uma das razões de a Turquia ter censurado e desafiado o poder de Israel no Médio Oriente é porque os seus capitalistas estão ansiosos por projectar investimentos e penetrar nos mercados do mundo árabe. Com excepção do sistema político americano, fortemente sionizado, as elites governantes e o público na Europa e na Ásia encararam favoravelmente a oposição da Turquia aos massacres israelenses em Gaza e à violação da lei internacional em águas marítimas. Se um moderno regime islâmico liberal pode crescer rapidamente através da rápida expansão duma classe diversificada de super-ricos, o mesmo acontece com Israel, um moderno estado judaico-neoliberal baseado no rápido crescimento duma classe de multimilionários altamente diferenciada.

Israel, com 16 multimilionários é um país em que as desigualdades de classe crescem mais rapidamente na região – com o mais alto número de multimilionários per capita do mundo… Os "sectores de crescimento" de Israel, software, indústrias militares, finança, seguros e diamantes e investimentos ultramarinos em metais e minas, são liderados por multimilionários e multi-multimilionários que beneficiaram das dádivas financeiras induzidas pelos sionistas, provenientes da pilhagem de recursos feita pelos EUA nos países da ex-URSS e da transferência de fundos pelas oligarquias russas-israelenses e também de empreendimentos conjuntos com multimilionários judaico-americanos em empresas de software, principalmente no sector de "segurança".

A alta percentagem de multimilionários em Israel, numa época de profundos cortes nas despesas sociais, desmente a sua afirmação de ser uma 'social-democracia' no meio dos 'xeicados'. A propósito, Israel tem o dobro de multimilionários (16) da Arábia Saudita (8) e mais super-ricos do que todos os países do Golfo juntos (13). O facto de Israel ter mais multimilionários per capita do que qualquer outro país não impediu os seus apoiantes sionistas nos EUA de pressionarem por uma ajuda adicional de 20 mil milhões de dólares na década passada. Contrariamente ao passado, a actual concentração de riqueza de Israel tem menos a ver com o facto de ser o maior recebedor de ajuda estrangeira… as doações a Israel são uma questão política: o poder sionista sobre a bolsa do Congresso. Dada a riqueza total dos multimilionários de Israel, um imposto de cinco por cento seria mais que compensador de qualquer corte da ajuda externa dos EUA. Mas isso não vai acontecer apenas porque o poder sionista na América impõe que os contribuintes americanos subsidiem os plutocratas de Israel, pagando-lhes o seu armamento ofensivo.

Conclusão

As "crises económicas" de 2008-2009 infligiram apenas perdas temporárias a alguns multimilionários (EUA-UE) e a outros não (asiáticos). Graças às operações de salvamento de milhões de milhões de dólares/euros/ienes, a classe multimilionária recuperou e alargou-se, apesar de os salários nos EUA e na Europa terem estagnado e os 'padrões de vida' terem sido atingidos por cortes maciços na saúde, na educação, no emprego e nos serviços públicos.

O que é chocante quanto à recuperação, crescimento e expansão dos multimilionários mundiais é como a sua acumulação de riqueza depende e está baseada na pilhagem de recursos do estado; como a maior parte das suas fortunas se basearam nas políticas neoliberais que levaram à apropriação a preços de saldos de empresas públicas privatizadas; como a desregulamentação estatal permite a pilhagem do ambiente para a extracção de recursos com a mais alta taxa de retorno; como o estado promoveu a expansão da actividade especulativa no imobiliário, na finança e nos fundos de pensões, enquanto encorajava o crescimento de monopólios, oligopólios e conglomerados que captaram "super lucros" – taxas acima do "nível histórico". Os multimilionários no BRIC e nos antigos centros imperialistas (Europa, EUA e Japão) foram os principais beneficiários das reduções fiscais e da eliminação de programas sociais e de direitos laborais.

O que é perfeitamente claro é que é o estado, e não o mercado, quem desempenha um papel essencial em facilitar a maior concentração e centralização de riqueza na história mundial, quer facilitando a pilhagem do erário publico e do ambiente, quer aumentando a exploração da força de trabalho, directa e indirectamente.

As variantes nos caminhos para o estatuto de 'multimilionário' são chocantes: nos EUA e no Reino Unido, predomina o sector parasita-especulativo sobre o produtivo; entre o BRIC – com excepção da Rússia – predominam diversos sectores que incorporam multimilionários da manufactura, do software, da finança e do sector agro-mineral. Na China, o abissal fosso económico entre os multimilionários e a classe trabalhadora, entre os especuladores imobiliários e as famílias expropriadas levou ao aumento do conflito de classes e a desafios, forçando a aumentos significativos de salários (mais de 20% nos últimos três anos) e à exigência de maiores gastos públicos na educação, saúde e habitação. Nada de comparável está a acontecer nos EUA, na UE ou noutros países do BRIC.

As origens da riqueza dos multimilionários são, quando muito, devidas apenas em parte a 'inovações empresariais'. A sua riqueza pode ter começado, numa fase inicial, a partir da produção de bens ou serviços úteis; mas, à medida que as economias capitalistas 'amadurecem' e se viram para a finança, para os mercados ultramarinos e para a procura de lucros mais altos, impondo políticas neoliberais, o perfil económico da classe multimilionários muda para o modelo parasita dos centros imperialistas instituídos.

Os multimilionários nos BRIC, a Turquia e Israel contrastam fortemente com os multimilionários do petróleo do Médio Oriente que são rentistas que vivem das 'rendas' da exploração do petróleo, do gás e dos investimentos ultramarinos, em especial do sector FIRE. Entre os países BRIC, só a oligarquia multimilionária russa se parece com os rentistas do Golfo. O resto, em especial os multimilionários chineses, indianos, brasileiros e turcos, tiraram partido das políticas industriais promovidas pelo estado para concentrar a riqueza sob a retórica de 'paladinos nacionais', que promovem os seus próprios 'interesses' em nome duma 'economia emergente de sucesso'. Mas mantêm-se as questões básicas de classe: "crescimento para quem? e a quem é que beneficia?" Até agora, o registo histórico mostra que o crescimento de multimilionários tem-se baseado numa economia altamente polarizada em que o estado serve a nova classe de multimilionários, sejam especuladores parasitas como nos EUA, rentistas saqueadores do estado e do ambiente, como na Rússia e nos estados do Golfo, ou exploradores da força de trabalho como nos países BRIC.

Post Scriptum

A revolta árabe pode ser vista em parte como uma tentativa de derrubar os 'clãs capitalistas de rentistas. A intervenção ocidental nas revoltas e o apoio das elites militares e políticas da "oposição" é um esforço para substituir uma classe governante capitalista 'neoliberal'. Essa "nova classe" será baseada na exploração da mão-de-obra e na expropriação dos actuais possuidores dos recursos clã-família-amigos. As principais empresas serão transferidas para multinacionais e capitalistas locais. Muito mais promissoras são as lutas internas dos trabalhadores na China e, em menor grau, no Brasil e no campesinato rural maoista e movimentos tribais na Índia, que se opõem à exploração e à expropriação de rentistas e capitalistas. NT
[1] Barão ladrão – termo pejorativo usado para um poderoso homem de negócios e banqueiro americano do século XIX.
[2] Sillicon Valley – situa-se a Sul da área da baía de S. Francisco, na Califórnia. Esta região alberga muitas das maiores companhias de tecnologia electrónica do mundo.

O original encontra-se em http://www.globalresearch.ca/index.php?context=va&aid=23907 .
Tradução de Margarida Ferreira.

Este artigo encontra-se em http://resistir.info/ .

29 de mar. de 2011

Outdoor garante direito de resposta ao MST em Pernambuco



Da CPT-PE

Camponeses e camponesas Sem Terra do Estado de Pernambuco conquistaram uma vitória na luta pela efetivação dos Direitos Humanos e em defesa da Reforma Agrária.
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A mensagem “Reforma Agrária: Esperança para o campo, comida na sua mesa” encontra-se em 21 outdoors espalhados por todo o estado. 
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A mensagem foi publicada após a assinatura de um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC), pela Associação dos Militares Estaduais de Pernambuco (AME), antiga AOSS e a empresa de outdoors Stampa.
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O TAC é fruto de mediação promovida pelo Ministério Público de Pernambuco e se deu em decorrência da veiculação massiva de propagandas de cunho difamatório e preconceituoso contra Sem Terras, promovida pela antiga AOSS, no ano de 2006, no Estado.
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De acordo com o TAC, a associação também terá que publicar retratações públicas aos sem terra no jornal de circulação interna aos membros da associação - e que chega também aos quadros da Policia Militar e do Corpo de Bombeiros-,  além de publicar também na página eletrônica da associação.

Hoje pela manhã as entidades de Direitos Humanos que acompanham o caso, representantes do Ministério Público do Estado, do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), da Comissão Pastoral da Terra (CPT), além de trabalhadores e trabalhadoras rurais, estiveram presentes no Ministério Público de Pernambuco para uma coletiva de Imprensa sobre o caso.
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Dr. Westei Conde y Martin, da promotoria de Direitos Humanos do MP, ressaltou que a medida que garante o Direito de resposta aos Sem terra que foram criminalizados é inédita em todo o Brasil.
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Para Adelmir Antero, da Direção Estadual do MST, a medida é um fato histórico para a luta dos trabalhadores e trabalhadores rurais e que esta retratação é para todos aqueles que vem sendo massacrados há mais de 500 anos no país.
O Padre Thiago Thorlby, da CPT reforçou que “a verdadeira propaganda dos camponeses e camponesas está todos os dias em nossa mesa, no almoço e jantar. E enquanto os camponeses produzem alimentos, o Governo destina bilhões ao agronegócio que mata, explora e expulsa o povo de suas terras”.

O instrumento judicial utilizado para firmar o TAC foi o da Ação Civil Pública e os outdoors com a mensagem de promoção e defesa dos direitos humanos e da Reforma Agrária tomarão as ruas do Recife e as estradas do Estado pelas próximas duas semanas..
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Para as organizações que acompanham o caso, espera-se que esta medida, além de garantir a retratação aos trabalhadores sem terra, possa estimular o dialogo com a população sobre a importância da luta pela efetivação dos direitos humanos e pelo acesso à terra no Estado, considerado um dos que mais concentra terras e promove violência no campo no Brasil, segundo dados do IBGE e da Comissão Pastoral da Terra.
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Histórico do Processo
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Durante os primeiros meses de 2006, a população do Estado de Pernambuco foi surpreendida com o início de uma ostensiva propaganda contra camponeses e camponesas Sem Terra, assinada pela antiga Associação dos Oficiais, Subtenentes e Sargentos da Polícia Militar/Corpo de Bombeiros Militar de Pernambuco (AOSS), a atual Associação dos Militares de Pernambuco (AME).
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A antiga AOSS havia colocado nas principais vias públicas da cidade do Recife e nas rodovias do estado outdoors com a seguinte mensagem de conteúdo difamatório e preconceituoso contra trabalhadores rurais Sem Terra: “Sem Terra: sem lei, sem respeito e sem qualquer limite. Como isso tudo vai parar?”. A mesma mensagem foi reproduzida em jornais de circulação local, internet, além de emissoras de TV e rádio. Também foram publicados textos igualmente preconceituosos e difamatórios no jornal interno da Associação.
Em resposta à propaganda, entidades de defesa dos direitos humanos, como o Movimento Nacional de Direitos Humanos (MNDH), a Comissão Pastoral da Terra (CPT) e a Terra de Direitos denunciaram o caso ao Ministério Público de Pernambuco. À época, as entidades protocolaram uma representação contra a antiga AOSS, afirmando que o Estado de Pernambuco é um local de extrema tensão agrária e a campanha publicitária, de criminalização da luta legítima dos trabalhadores rurais sem terra, incitava os policiais militares a agirem de maneira violenta contra esses camponeses, estimulando ainda mais o conflito existente no campo.
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Foto Sebastião Salgado
Além disso, o material publicitário veiculado ultrapassava os ditames da liberdade de expressão e manifestação, vez que, de conteúdo preconceituoso, atentava contra os princípios constitucionais, especialmente a dignidade humana, o direito à organização política e, acima de tudo, o direito de lutar por direitos. Após a denúncia, o Ministério Público abriu o procedimento de nº 06008-0/7 para apurar os fatos, o que desembocou no Termo de Ajustamento de Conduta citado.
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As manifestações na luta pela Reforma Agrária fazem parte do exercício da cidadania em um estado democrático de direito, sendo legítima a forma de manifestação em sua defesa. O exercício do direito à mobilização, a fim de garantir direitos, mais especificamente o direito à terra, e de dar visibilidade aos pleitos sociais, mais que legítimo, é necessário para a real concretização da democracia, principalmente num estado como Pernambuco, em que problemas estruturais como a escravidão, o latifúndio e a privatização dos espaços públicos ainda estão presentes e não são enfrentados. Em Pernambuco, a concentração fundiária alcança o índice GINI de 0,8181, sendo grande parte dessas terras improdutivas. De outro lado, cerca de vinte mil famílias sem terra aguardam a efetivação da política pública de Reforma Agrária para garantir sua alimentação, seu sustento, sua dignidade.
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De caráter amplo e estrutural, a Reforma Agrária garante o acesso e a concretização de outros direitos humanos, como o direito à moradia, à alimentação e ao trabalho. Além disso, são esses mesmos trabalhadores rurais, que lutam pela Reforma Agrária, os responsáveis pela construção da soberania alimentar do país: a esmagadora maioria dos alimentos consumido nas cidades vem da agricultura familiar e camponesa, inclusive de assentamentos de Reforma Agrária. Segundo dados do IBGE a agricultura familiar e camponesa é responsável por 87% da produção nacional de mandioca, 70% da produção de feijão, 46% do milho, 38% do café, 34% do arroz, 58% do leite, 59% do plantel de suínos, 50% das aves, 30% dos bovinos e, ainda, 21% do trigo.
Foto Sebastião Salgado
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Portanto, trabalhadoras e trabalhadores rurais sem terra, enquanto defensores de direitos humanos que são, mais que lutadores incansáveis pelo combate da desigualdade social (o que só é possível, dentre outras coisas, após uma profunda Reforma Agrária), são brasileiros e brasileiras, na luta pelo direito de viver com dignidade. 
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Fonte:http://www.mst.org.br/Outdoor-garante-direito-de-resposta-ao-MST-em-Pernambuco

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27 de mar. de 2011

Dilma Rousseff – O governo de letrinhas miúdas

Diário Liberdade - [Laerte Braga] Quem estiver esperando críticas de Lula – por suaves que possam ser – ao governo Dilma Rousseff pode tirar o cavalinho da chuva. O ex-presidente já percebeu a fritura e decidiu, pelo menos por enquanto, buscar formas de imunizar-se ao óleo fervente despejado pela mídia privada, por setores do empresariado, latifúndio e de cambulhada o governo envolvido num processo de sedução que tanto passa pelo deslumbramento da presidente com o poder – alem do amadorismo – e um certo açodamento em se mostrar capaz de ser diferente de um poste confiável eleita não por Lula em si, mas pelos oito anos de governo do metalúrgico.
E enquanto puder aguentar vai fazê-lo, pois sabe que há um processo de desconstrução de sua imagem e seu fascínio sobre a maioria do povo brasileiro. E já percebeu que Dilma Rousseff entrou no esquema, ou como inocente útil, ou consciente que neste momento ela tem a força.
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O grande temor das elites é uma eventual candidatura de Lula em 2014 e por essa razão vão tentar de todas as formas manter o governo Dilma atento a questões sociais – aí num aspecto eleitoreiro, ao contrário de Lula – enquanto mudam e ajustam o que de fato se lhes interessa.
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As eleições presidenciais no Brasil foram marcadas por uma característica muito simples. De um lado os tucanos, ávidos de retomarem suas políticas de privatizações e submissão aos EUA e de outro Lula e sua candidata Dilma Rousseff. Nem mesmo a incapacidade de Dilma de se expressar com clareza em debates, em encontros – a não ser quando podia ler os discursos – foi capaz de atrapalhar. A força de Lula era maior. O eleitor estava votando na candidata de Lula. E Dilma reafirmando todos os compromissos de Lula.
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Boa parte da campanha presidencial Dilma Rousseff passou em silêncio, longe dos holofotes, acreditando na propaganda gratuita – sempre com Lula presente e em cima das conquistas do governo do ex-presidente – e nos debates o cuidado era evitar que a candidata derrapasse ou caísse nas armadilhas tucanas em crônica incompetência de comunicar-se (claro que ela vai superar isso).
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Esses dados não apenas gerais, serviram para que jornalistas venais como William Waack informasse ao Departamento de Estado o andamento do processo eleitoral no Brasil, como para que a mídia no seu todo – a mídia privada – tentasse até transformar uma bolinha de papel num míssil a atingir a cabeça de José Serra.
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Em todos os momentos o que se percebeu foi que Dilma era irrelevante no processo, mas Lula era a essência desse processo.
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Não se está aqui analisando o governo Lula, nem de longe. Ou seja, nem endossando o todo, nem criticando esse mesmo todo.
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Quem se der ao trabalho de pesquisar as atitudes de Dilma e suas posições quando ainda ministra chefe do Gabinete Civil vai encontrar posições completamente diversas das que vem adotando na chefia do governo.
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Nesses quase três meses mostra-se apenas uma leoa sem dentes – fama de brava -, presa a alianças espúrias e cerca dos piores elementos possíveis da política brasileira, como Nelson Jobim, como Moreira Franco (eu não consigo entender como foram ressuscitar essa múmia), Michel Temer e outros mais. Que por sua vez falam por interesses que não têm nada a ver com o Brasil e os brasileiros e muito menos com os compromissos assumidos pela candidata em praça pública, nas poucas que compareceu.
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Falo isso, pois os marqueteiros de Dilma, o próprio Lula, os caciques do PT, perceberam que quanto menos a candidata aparecesse ou falasse menor seria o estrago e menores seriam os riscos.
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Neste momento entra em cena uma das mais execráveis figuras da política e da história do Brasil. Fernando Henrique Cardoso.
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Todo o processo de avanços dos norte-americanos sobre o nosso País, principalmente depois do pré-sal, passou por amplas discussões com setores da mídia privada – volto a me referir ao jornalista William Waack –, as campanhas denuncistas de VEJA, FOLHA DE SÃO PAULO ( no lamentável episódio da ficha de Dilma) e ao jogo que sempre fez o grupo GLOBO, principalmente a partir do JORNAL NACIONAL, uma espécie de porta-voz dos interesses mais escabrosos dos EUA sobre o Brasil.
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Fernando Henrique Cardoso é um interlocutor privilegiado do governo dos EUA. Íntimo de Bil e Hillary Clinton, agora próximo de Obama (não tanto quanto de Clinton), tem trânsito livre junto a grandes corporações norte-americanas (é de absoluta confiança delas) e corre livre em relação ao seu partido no País, o PSDB. Acha que José Serra perdeu por não ouvi-lo (tem essa presunção de que é um semideus) e que Aécio, provável candidato tucano em 2014 é apenas um menino, vamos dizer, travesso, para não entrarmos em pormenores que estavam e constavam do dossiê Serra contra Aécio (quando ainda disputavam a indicação do partido) e que o jornalista Juca Kfoury – amigo de Serra – revelou num golpe preciso em sua coluna.
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O que Juca disse foi que por conta de substâncias estranhas, vamos com essa expressão, Aécio seria um novo Collor e não tinha condições de governar o Brasil.
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Tudo bem, até aí eu pulei do centésimo andar, estou passando pelo quinquagésimo e nada de novo aconteceu a não ser um vento diferente.
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Daí para baixo não. As coisas começam a mudar.
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FHC esteve nos EUA no período das festas de fim de ano. Passeou e conversou – principalmente conversou – com figuras do governo de Obama e lhe foi dada a missão de tentar aproximar-se de Dilma – falam a mesma linguagem, a acadêmica – e ver o que era possível fazer.
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É um dos gurus da presidente. Não está ainda no nível de convivência pessoal estreita, mas indireta e através de pastas e pastas de atos do seu governo levadas ao conhecimento da presidente. Fascinada com o nível intelectual do ex.
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O raciocínio que tentam impingir a Dilma e estão conseguindo é simples. Lula já cumpriu seu papel, no máximo agora uma espécie de reserva moral do País. Não há porque voltar. Se mudadas as políticas sociais do ex-presidente o governo Dilma vai para o brejo, razão pela qual é importante mantê-las. Mas, a política econômica e uma revisão na política externa atrelando o Brasil aos EUA é fundamental se levado em conta que, este o pulo do gato, o Brasil agora é uma grande potência e não precisa temer os EUA e seus apetites imperialistas.
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Pode virar uma Colômbia sem susto nenhum, vir a ser um parceiro privilégio da ordem terrorista imposta ao mundo pelos Estados Unidos.
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O argumento tem seduzido Dilma, FHC conta com aliados importantes no governo como Temer, Jobim, Moreira Franco, o chanceler Anthony Patriot e aqueles antigos amigos de Lula que hoje fingem que não viram o presidente quando cruzam na rua, procedimento comum, quase que matemático na política em todos os cantos do mundo.
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A criatura se volta contra o criador. No laboratório político de Lula alguma coisa deu errada, algum produto foi mal avaliado, a reação não foi percebida corretamente e nasceu um monstro do ponto de vista político. Dilma Rousseff.
O canto da sereia? FHC prepara-se para vender direta e indiretamente a Dilma a idéia que a solução real passa pela reeleição da presidente em 2014, afastando qualquer chance do ex-presidente, mantendo-o como reserva moral repito, ao mesmo tempo em que afasta um tresloucado como Aécio Neves e encerra de vez o ciclo José Serra (em fase de obsessão com as maracutaias que seu aliado tucano Geraldo Alckmin vem revelando durante o período do sábio tucano no governo do Estado).
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Serra passa o dia ao telefone pedindo a jornalistas e ameaçando revelar o quanto pagava a gente tipo Eliane Catanhêde para dizer que “é Deus no céu e Serra na Terra).
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Se alguém se dedicar a traçar com zelo e perspicácia o perfil real de José Serra vai perceber que se não fosse político o ex-governador de São Paulo seria um serial killer.
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Revelar que Dilma está caindo num buraco sem fim, consciente disso, mas caindo, que está metendo os pés pelas mãos e jogando fora o que houve de positivo nos oito anos do governo Lula não significa falar ou escrever que a direita, a mídia podre, estejam se regalando com isso. Calar significa, isso sim, aceitar que a mídia podre já se regala desde os contatos antes da posse entre o grupo FHC e a presidente.
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Aqueles que parecem ser uma coisa e são outra. Como Dilma.
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Ela e FHC falam a mesma linguagem, recheadas de asteriscos com explicações detalhadas embaixo, ao pé da página, têm a visão que são enviados para conduzir o Brasil a um destino grandioso e vai por aí afora.
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O governo Dilma Rousseff vai comendo pelas beiradas não o mingau da direita, mas o da esquerda. E o PT de determinados setores, os majoritários, torcem o nariz para qualquer intromissão ou participação de Lula.
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A sensação que o ex-presidente sente neste momento é a de ser um bagaço, espremido, usado e jogado fora pelos antigos aliados – boa parte deles –. E é evidente, porque se for depender de equilíbrio, uma no cravo e outra na ferradura, Dilma não sabe nem o que é isso, é um elefante em loja de louças.
Quem viver verá, desde os que estão aboletados em cargos públicos e pensam segundo a ótica do poder, até os inocentes que acreditam que os anjos vão cercar e ungir o Palácio do Planalto na missão divina de Dilma.
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Ah! Seria bom saber o custo do voto do Brasil contra o Irã. O que isso significa, para falar nos termos de Dilma, em investimentos de grupos árabes no Brasil e melhor ainda, dar conta de como vai ficar o projeto de irrigação do Rio Verde e Jacaré, na Bahia, tocado entre o governo Jacques Wagner e o governo da Líbia que investiu um bilhão de dólares em obras que arrastam a mais de uma década sem evoluir.
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O que isso significa? Que o pragmatismo de Dilma é o dólar que vem de Washington, ou seja, o do faremos tudo que o mestre mandar. FHC é meio de campo e joga com desenvoltura nesse esquema. Está ressuscitado também. Saiu do sarcófago.
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Por enquanto ainda convém manter algumas posturas aparentemente progressistas, até a hora de apertar a corda e deixar o corpo de Lula cair no alçapão que a direita e a mídia estão armando sob controle e batuta dos EUA e direção – aqui em nosso País – do novo xodó da presidente, o ex Fernando Henrique Cardoso.
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26 de mar. de 2011

CANÇÃO DA SAÍDA

Se não tens o que comer
como pretendes defender-te
é preciso transformar
todo o estado
até que tenhas o que comer
e então serás teu próprio convidado.

Quando não houver trabalho para ti
como terás de defender-te
é preciso transformar
todo o estado
até que sejas teu próprio empregador.
e então haverá trabalho para ti

se riem de tua fraqueza
como pretendes defender-te?
deves unir-te aos fracos.
e marcharem todos unidos.
então será uma grande força
e ninguém rirá.
BERTOLD BRECHT

25 de mar. de 2011

Algumas mentiras sobre a guerra na Líbia

Cubadebate - [Thierry Meyssan, Tradução de Diário Liberdade] 3 de Março de 2011. É costume dizer que em uma guerra a primeira vítima é a verdade. As operações militares na Líbia e a resolução 1973, que lhes serve de base jurídica, não são a exceção à regra. São apresentadas ao público como necessárias para proteger a população civil, vítima da repressão indiscriminada do coronel Kadafi. Na realidade, elas têm objetivos imperialistas clássicos. Vejamos alguns elementos esclarecedores.

Crimes contra a humanidade

Com a intenção de piorar o panorama, a imprensa atlantista fez crer que as centenas de milhares de pessoas que fugiam da Líbia estavam tratando de escapar de um massacre. Agências de imprensa falaram de milhares de mortos e de «crimes contra a humanidade». A resolução 1970 denunciou perante a Corte Penal Internacional possíveis «ataques sistemáticos ou generalizados contra a população civil ». O conflito líbio tem, na realidade, uma leitura política e, ao mesmo tempo, uma leitura em termos tribais. Os trabalhadores imigrantes foram as primeiras vítimas do enfrentamento. Bruscamente, viram-se obrigados a partir. Os combates entre os partidários de Kadafi e os rebeldes foram certamente sangrentos, mas não nas proporções anunciadas. Nunca houve repressão sistemática contra a população civil.

Apoio à «primavera árabe»

Em seu discurso perante o Conselho de Segurança, o ministro francês de Relações Exteriores, Alain Juppé, elogiou a «primavera árabe» em geral, e a insurreição líbia, em particular.

Seu lírico discurso escondia escuras intenções. Não disse nem uma palavra sobre a sangrenta repressão no Iêmen e no Barein, mas elogiou o rei Mohamed VI de Marrocos, como se tratasse de um dos militantes revolucionários [1], contribuindo, assim, para piorar a já desastrosa imagem da França que existe no mundo árabe, graças à presidência de Sarkozy.

Apoio da União Africana e da Liga Árabe

Desde o início destes acontecimentos, França, Grã-Bretanha e Estados Unidos não deixam de afirmar que esta não é uma guerra ocidental, ainda que o ministro francês do Interior, Claude Gueant, tenha falado de uma «cruzada» de Nicolas Sarkozy [2]. Os três países mencionados se escudam, assim, no apoio que supostamente teriam recebido da União Africana e da Liga Árabe.

A realidade é que a União Africana condenou a repressão e reconheceu a legitimidade das reivindicações democráticas, mas se pronunciou, a todo o momento, contra uma intervenção armada estrangeira [3]. Com relação à Liga Árabe, trata-se de uma organização que reúne principalmente uma série de regimes ameaçados por revoluções similares. Esses regimes apoiaram o próprio início da contrarrevolução ocidental – alguns, inclusive, estão participando dela no Barein – mas não podem se dar o luxo de chegar a apoiar uma verdadeira guerra ocidental, porque teriam de enfrentar uma aceleração dos movimentos de oposição internos que poderiam derrotá-los.

Reconhecimento do Conselho Nacional Líbio de Transição

Há 3 zonas rebeldes na Líbia. Um Conselho Nacional de Transição se constituiu em Bengazi. Fusionou-se com um Governo Provisório criado pelo ministro da Justiça de Kadafi, que se uniu aos rebeldes [4]. Foi este mesmo personagem, segundo as autoridades búlgaras, que organizou as torturas contra as enfermeiras búlgaras e o médico palestino, que foram mantidos detidos pelo regime por um longo tempo.

Ao outorgar seu reconhecimento a este Conselho Nacional Líbio de Transição e ao eximir de toda culpa o seu novo presidente, a coalizão de países ocidentais escolhe os seus interlocutores e os impõem aos rebeldes como dirigentes. Isso lhes permite retirar os revolucionários nasseristas, os comunistas e os khomeinistas.

O objetivo é adiantar-se aos acontecimentos e evitar o que sucedeu na Tunísia e no Egito, quando os ocidentais impuseram um governo do partido de Ben Ali sem Ben Ali, ou um governo de Suleiman sem Mubarak; governos que os revolucionários derrotaram igualmente.

Embargo sobre o armamento

Se o objetivo fosse proteger a população, havia bastado instaurar um embargo aos mercenários e ao armamento destinado ao regime de Kadafi. Em vez disso, o embargo se estendeu aos rebeldes para prevenir sua possível vitória. O verdadeiro objetivo era deter a revolução.

Zona de exclusão aérea

Se o objetivo fosse proteger a população civil, a zona de exclusão se limitaria aos territórios rebeldes (como se fez no Iraque com o Curdistão). A realidade é que a proibição de voo se estende a todo o país. Dessa maneira, a coalizão espera manter a correlação de forças em terra e dividir o país em 4 partes: as 3 zonas rebeldes e a zona leal.

Esta divisão de fato da Líbia deve ser comparada com a do Sudão e a da Costa do Marfim, primeiras etapas do «redesenho da África».

Congelamento de bens

Se o objetivo fosse proteger a população civil, ter-se-ia apenas ordenado o congelamento dos bens pessoais da família Kadafi e dos dignitários do regime para impedi-los de violar o embargo sobre o armamento. Mas esse congelamento se estendeu também aos bens do Estado líbio. O fato é que a Líbia, sendo um rico Estado petroleiro, dispõe de um tesouro considerável, parte do qual está investido no Banco do Sul, instituição que se dedica ao financiamento de projetos no Terceiro Mundo.

Como assinalou o presidente da Venezuela, Hugo Chávez, o congelamento de bens não protegerá os civis. Seu objetivo é restabelecer o monopólio do Banco Mundial e do FMI.

Coalizão de voluntários 

Se o objetivo fosse proteger a população civil, o encarregado de aplicar a resolução 1973 seria a ONU. Em vez disso, as operações militares estão sendo coordenadas atualmente pelo US AfriCom e supostamente vão passar para as mãos da OTAN [5]. É por isso que o ministro turco de Relações Exteriores, Ahmet Davutoglu, indignou-se perante a iniciativa francesa e exigiu explicações por parte da OTAN.

De maneira mais direta, o primeiro-ministro russo, Vladimir Putin, qualificou a resolução 1973 como «viciada e inadequada. Se alguém a lê, torna-se evidente que ela autoriza qualquer um a tomar medidas contra um Estado soberano. Tudo isso me lembra a convocação medieval à cruzada», concluiu Putin [6].

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[1] O leitor encontrará a íntegra do discurso de Alain Juppé, dos debates do Conselho de Segurança da ONU e o texto da resolução em «Résolution 1973», Réseau Voltaire, 17 de março de 2011.
[2] «La croisade de Nicolas Sarkozy», Réseau Voltaire, 22 de março de 2011.
[3] «Communiqué de l’Union africaine sur la Libye», Réseau Voltaire, 10 de março de 2011.
[4] Para mais detalhes, ver «Proche-Orient: la contre-révolution d’Obama», por Thierry Meyssan, Réseau Voltaire, 16 de março de 2011.
[5] «Washington regarde se lever “l’aube de l’odyssée” africaine», por Thierry Meyssan, Réseau Voltaire, 19 de março de 2011.
[6] «Remarks on the situation in Libya», por Vladimir V. Poutine, Réseau Voltaire, 21 de março de 2011.

Thierry Meyssan, apesar de simpatizar com a insurreição contra o regime de Muammar Kadhafi, opõe-se à resolução 1973 e se pronuncia contra a guerra. Em artigos anteriores mostrou os objetivos imperialistas desta operação. Neste trabalho, Meyssan assinala as principais mentiras da propaganda atlantista.

Traduzido para Diário Liberdade por Gabriela Blanco

22 de mar. de 2011

Governo brasileiro curva-se ao imperialismo

A vinda de Obama ao Brasil foi um gesto forte que marcou, para o Brasil e o mundo, um claro movimento de estreitamento das relações entre os governos brasileiro e norte-americano. O governo Dilma aponta para a continuidade, em nova fase, das ações de defesa dos interesses do capitalismo brasileiro no exterior.

A agenda midiática da visita sinaliza claramente um realinhamento do Brasil ao imperialismo norte-americano. Obama, por decisão do novo governo, foi o primeiro estadista estrangeiro a visitar o Brasil após a posse de Dilma. Mas não foi uma visita qualquer.

O governo brasileiro montou um palanque de honra e um potente amplificador para Obama falar ao mundo, em especial à América Latina, para ajudar os EUA a recuperarem sua influência política e reduzir o justo sentimento antiamericano que nutre a maioria dos povos. Nem na ditadura militar, um presidente estadunidense teve uma recepção tão espalhafatosa como a que Dilma lhe ofereceu.

Os meios de comunicação burgueses do mundo todo anunciam hoje em suas manchetes “o carinho do povo brasileiro com Obama” e a “amizade Brasil/Estados Unidos”. Caiu a máscara de uma falsa esquerda que proclama a política externa brasileira como “antiimperialista”.

Em verdade, o Brasil esteve três dias sob intervenção do governo ianque, que decidiu tudo, desde os acordos bilaterais a serem assinados à agenda, à segurança, à repressão a manifestações, ao itinerário, ao alojamento, às visitas e até ao cardápio de Obama. No Rio de Janeiro, a diplomacia americana e a CIA destituíram o governador e o prefeito, que queriam surfar na visita ilustre, decidindo tudo a respeito da presença de Obama na capital do Estado. Até a Câmara Municipal do Rio de Janeiro, que fica na Cinelândia, foi obrigada a suspender suas atividades na sexta-feira. Foi ocupada por agentes norte-americanos e militares brasileiros para os preparativos do comício de domingo, que seria na praça em frente.

No caso da América Latina, foi um gesto de solidariedade aos EUA em sua luta contra os processos de mudança, sobretudo na Venezuela, Bolívia e no Equador e uma vista grossa ao bloqueio a Cuba Socialista e à prisão dos Cinco Heróis cubanos.

A moeda de troca para abrirmos mão de nossa soberania foi um mero aceno de apoio norte-americano à pretensão obsessiva do Estado burguês brasileiro de ocupar uma cadeira permanente no Conselho de Segurança da ONU, um símbolo para elevar o Brasil à categoria de potência capitalista mundial. Tudo para expandir os negócios dos grandes grupos brasileiros no mercado norte-americano e mundial.

Enganam-se os que pensam que existe contradição entre a política externa do governo Lula e a de Dilma, ambas fundamentalmente a serviço do capital. Trata-se agora de uma inflexão pragmática. Após uma fase em que o Brasil expandiu e consolidou os interesses de seus capitalistas por novos “mercados” como América Latina, África, Ásia e Oriente Médio, a tarefa principal agora é dar mais atenção aos maiores mercados do mundo, para cuja disputa segmentos da burguesia brasileira se sentem mais preparados.

Vai no mesmo sentido a vergonhosa atitude de Dilma lavar as mãos para facilitar a extradição de Cesare Battisti ao governo italiano, dirigido pelo degenerado cafetão Berlusconi, entregando um militante de esquerda na bandeja do imperialismo europeu, no exato momento em que cresce na região a resistência dos trabalhadores.

O governo brasileiro, durante os três dias em que Obama presidiu o Brasil, não fez qualquer gesto ou apelo aos EUA, sequer de caráter humanitário, pelo fim do bloqueio a Cuba, o desmonte do centro de tortura em Guantánamo, a criação do Estado Palestino, o fim da intervenção militar no Iraque e no Afeganistão.

Debochando da soberania brasileira e da nossa Constituição - que define nosso país como amante da paz mundial e da autodeterminação dos povos -, Obama ordenou os ataques militares contra a Líbia a partir do território brasileiro, exatamente em Brasília, próximo à Praça dos Três Poderes, que se ajoelharam todos diante desta humilhação ao povo brasileiro. Não se deu ao trabalho de ir à Embaixada americana, para de lá ordenar a agressão militar. Fê-lo em meio a compromissos com seus vassalos, entre os quais ministros de Estado brasileiros que se deixaram passar pelo vexame de serem revistados por agentes da CIA.

O principal objetivo da vinda de Obama ao Brasil foi lançar uma ofensiva sobre as reservas petrolíferas brasileiras do pré-sal, uma das razões da reativação da IV frota naval americana nos mares da América Latina. No caso de alguns países, o imperialismo precisa invadi-los militarmente para se apoderar de seus recursos naturais. No Brasil, bastam três dias de passagem do garoto propaganda do estado terrorista norte-americano, espalhando afagos cínicos e discursos demagógicos.

Obama, Nobel da Paz

Outro objetivo importante da visita tem a ver com a licitação para a compra de aviões militares, suspensa por Dilma no início do ano, justamente para recolocar no páreo os aviões norte-americanos. Além disso, os EUA garantiram outros bons negócios na agricultura, no setor de serviços, na maior abertura do mercado brasileiro e latino-americano em geral.

Obama só foi embora fisicamente. Mas deixou aqui fincada a bandeira de seu país, no coração do governo Dilma. Cada vez fica mais claro que, no caso brasileiro, o imperialismo não é apenas um inimigo externo a combater, mas um inimigo também interno, que se entrelaçou com os setores hegemônicos da burguesia brasileira. O pacto Obama/Dilma reforça o papel do Brasil como ator coadjuvante e sócio minoritário dos interesses do imperialismo norte-americano na América Latina, como tristemente já indicava a vergonhosa liderança brasileira das tropas militares de intervenção no Haiti.

O PCB, que participou ativamente das manifestações contra a presença de Obama no Brasil, denuncia o inaudito aparato repressivo no centro do Rio de Janeiro. Repudia a repressão exercida contra ativistas políticos e se solidariza de forma militante com os companheiros presos.

Desde a época da ditadura, nunca houve tamanha repressão e restrição à liberdade de expressão e ao direito de ir e vir. No domingo, o centro do Rio de Janeiro foi cercado por tropas e equipamentos militares. Uma passeata pacífica foi encurralada por centenas de militares armados, agentes à paisana, cavalaria e tropa de choque. Nunca houve tamanho aparato militar, mobilizado pelas três esferas de governo - Federal, Estadual e Municipal -, sob o comando da CIA e do Pentágono, em clara e desavergonhada submissão ao imperialismo.

A resistência do movimento popular teve uma vitória importante: a pressão exercida levou à suspensão de um comício de Obama em praça pública, na Cinelândia, local que simboliza as lutas democráticas e da esquerda brasileira. Obama fugiu do povo e falou em local fechado para convidados escolhidos a dedo, pelo consulado americano, a nata da burguesia carioca: falsos intelectuais, empresários associados, jornalistas de aluguel, artistas globais, políticos oportunistas, deslumbrados e emergentes, enfim, uma legião de puxa-sacos que se comportaram como claque de programa de auditório de mau gosto para o chefe dos seus chefes.


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Líbia: O maior empreendimento militar desde a invasão do Iraque – Rumo a uma operação militar prolongada

Michel Chossudovsky 

Mentiras rematadas dos media internacionais: Bombas e mísseis são apresentados como instrumentos de paz e de democratização.

Isto não é uma operação humanitária. O ataque à Líbia abre um novo teatro de guerra regional.

Há três diferentes teatros de guerra no Médio Oriente - região da Ásia Central: Palestina, Afeganistão e Iraque.

O que está a desdobrar-se é um quarto Teatro de Guerra EUA-NATO no Norte de África, com risco de escalada.

Estes quatro teatros de guerra estão funcionalmente relacionados, fazem parte de uma agenda militar integrada EUA-NATO.  

O bombardeamento da Líbia esteve no estirador do Pentágono durante vários anos, como confirmado pelo antigo comandante da NATO, general Wesley Clark.


A operação Odissey Dawn é reconhecida como a "maior intervenção militar ocidental no mundo árabe desde que começou a invasão do Iraque, há exactamente oito anos" ( Russia: Stop 'indiscriminate' bombing of Libya - Taiwan News Online , March 19, 2011).


Esta guerra faz parte da batalha pelo petróleo. A Líbia está entre as maiores economias petrolíferas do mundo, com aproximadamente 3,5% das reservas globais de petróleo – mais do dobro das dos EUA.


O objectivo subjacente é obter controle sobre as reservas de petróleo e gás da Líbia sob o disfarce de uma intervenção humanitária.


As implicações geopolíticas e económicas de uma intervenção militar conduzida pelos EUA-NATO contra a Líbia são de extremo alcance.


A Operação "Odyssey Dawn" faz parte de uma agenda militar mais vasta no Médio Oriente e na Ásia Central, a qual consiste em obter controle e propriedade corporativa sobre mais de 60 por cento das reservas mundiais de petróleo e gás natural, incluindo as rotas dos oleodutos e gasodutos.


Com 46,5 mil milhões de barris de reservas provadas (10 vezes as do Egipto), a Líbia é a maior economia petrolífera no continente africano seguida pela Nigéria e Argélia (Oil and Gas Journal). Em contraste, as reservas provadas dos EUA são da ordem dos 20,6 mil milhões de barris (Dezembro 2008) de acordo com a Energy Information Administration. U.S. Crude Oil, Natural Gas, and Natural Gas Liquids Reserves ).


O maior empreendimento militar desde a invasão do Iraque


Uma operação militar desta dimensão e magnitude, envolvendo a participação activa de vários membros da NATO e países parceiros, nunca é improvisada. A operação Odyssey Dawn estava em etapas avançadas de planeamento militar antes do movimento de protesto no Egipto e na Tunísia.


A opinião pública foi levada a acreditar que o movimento de protesto se propagou espontaneamente da Tunísia e do Egipto à Líbia.


A insurreição armada na Líbia Oriental é apoiada directamente por potências estrangeiras. As forças rebeldes em Bengazi imediatamente arvoraram a bandeira vermelha, negra e verde com o crescente e a estrela: a bandeira da monarquia do rei Idris, o qual simbolizava o domínio das antigas potências coloniais. (Ver Manlio Dinucci, Libya-When historical memory is erased , Global Research, February 28, 2011)


A insurreição também foi planeada em coordenada com o cronograma da operação militar. Ela foi cuidadosamente planeada meses antes do movimento de protesto, como parte de uma operação encoberta.


Forças especiais do estado-unidenses e britânicas foram descritas como estando no terreno a "ajudar a oposição" desde o princípio.


Do que estamos a tratar é de um roteiro militar, um cronograma de eventos militares e de inteligência cuidadosamente planeados.


Cumplicidade das Nações Unidas


Até agora, a campanha de bombardeamento resultou em incontáveis baixas civis, as quais são classificadas pelos media como "danos colaterais" ou atribuídas às forças armadas líbias.


Numa ironia amarga, a Resolução 1973 do Conselho de Segurança da ONU concede à NATO um mandato "para proteger civis".
Protecção de civis


3. Autoriza Estados membros que notificaram o secretário-geral, a actuarem nacionalmente ou através de organizações regionais ou acordos, e a actuarem em cooperação com o secretário-geral, a tomarem todas as medidas necessárias , não obstante o parágrafo 9 da resolução 1970 (2011), para proteger civis e áreas populadas por civis sob ameaça de ataque na Jamahiriya Árabe Líbia, incluindo Bengazi, enquanto excluindo uma forças de ocupação estrangeira de qualquer forma sobre qualquer parte do território líbio , e requer os Estados membros relacionados a informarem imediatamente o secretário-geral das medias que tomaram de acordo com a autorização conferida por este parágrafo a qual será imediatamente informada ao Conselho de Segurança. ( UN Security Council Resolution on Libya: No Fly Zone and Other Measures , March 18, 2011)
A resolução da ONU garante às forças da coligação carta branca para empenharem-se numa guerra total contra um país soberano em desrespeito do direito internacional e em violação da Carta das Nações Unidas. Ela também serve a interesses financeiros dominantes: não só permite à coligação militar bombardear um país soberano como também permite o congelamento de activos, podo assim em perigo o sistema financeiro da Líbia.
Congelamento de activos

19. Decide que o congelamento de activos imposto pelo parágrafo 17, 19, 20 e 21 da resolução 1970 (2011) será aplicados a todos os fundos, outros activos financeiros e recursos económicos que estão no seu território, os quais são possuídos ou controlado, directa ou indirectamente, pelas autoridades líbias, ...
Em parte alguma da resolução do CSONU é mencionada a questão da mudança de regime. Mas é entendido que forças da oposição receberão parte do dinheiro confiscado sob o artigo 19 de resolução 1973. Discussões com líderes da oposição para esse facto de facto já tiveram lugar. Isso se chama desvio do texto e fraude financeira.
20. Afirma a sua determinação de assegurar que activos congelados de acordo com o parágrafo 17 da resolução 1979 (2011) deverão, numa etapa posterior, tão logo quanto possível serem disponibilizados para e em benefício do povo da Jamahiriya Árabe Líbia;
Em relação à "Imposição do embargo de armas" sob o parágrafo 13 da resolução, as forças da coligação comprometer-se-ão sem excepção a impor um embargo de armas à Líbia. Mas desde o princípio eles violaram o Artigo 13, ao fornecerem armas às forças de oposição em Bengazi.

Operação militar prolongada?

Os conceitos são invertidos. Numa lógica absolutamente enviesada, paz, segurança e protecção do povo líbio devem ser alcançados através de ataques de mísseis e bombardeamentos aéreos.

O objectivo da operação militar não é a protecção de civis mas a mudança de regime e a ruptura do país, como na Jugoslávia, nomeadamente a partição da Líbia em países separados. A formação de um Estado separado na área produtora de petróleo da Líbia Oriental foi contemplada por Washington durante muitos anos.

Cerca de uma semana antes do ataque com bombardeamentos, o director da inteligência nacional James Clapper enfatizou num testemunho ao Comité de Serviços Armados do Senado dos EUA que a Líbia tem capacidades de defesa aérea significativas e que uma abordagem zona de interdição de voo poderia potencialmente resultar numa prolongada operação militar.

A política de Obama tem o "objectivo de afastar Kadafi", reiterou o conselheiro de segurança nacional.

Mas o testemunho de Clapper revela quão difícil isso poderia ser.

Ele disse ao comité do Senado pensar que "Kadafi está nisto por muito tempo" e que não pensa ter Kadafi "qualquer intenção ... de abandonar".

Finalmente, enumerando as razões porque acredita que Kadafi prevalecrá, Clapper disse que o regime tem mais stocks militares e pode contar com um exército bem treinado, unidades "robustamente equipadas", incluindo a 32ª Brigada, a qual é comandada pelo filho de Kadafi, Khamis, e a 9ª Brigada.

O grosso do seu hardware inclui defesas aéreas de fabricação russa, artilharia, tanques e outros veículos, "e eles parecem mais disciplinados quanto ao modo como tratam e reparam esse equipamento", continuou Clapper.

Clapper contestou afirmações de que uma zona de interdição de voo poderia ser imposta à Líbia rápida e facilmente, dizendo que Kadafi comanda o segundo maior sistema de defesa aérea do Médio Oriente, logo após o do Egipto.

"Eles têm um bocado de equipamento russo e há uma certa qualidade nos números. Algum do equipamento caiu nas mãos dos oposicionistas", continuou.

O sistema compreende cerca de 32 sítios de mísseis terra-ar e um complexo de radar que "está centrado na protecção da linha costeira (mediterrânea) onde está 80 ou 85 por cento da população", disse Clapper. As forças de Kadafi também têm "um número muito grande" de mísseis anti-avião disparados do ombro (shoulder-fired anti-aircraft missiles).

O general do Exército Ronald Burgess, director da Defense Intelligence Agency, endossou a avaliação de Clapper, dizendo que o momento estava a mudar em favor das forças de Kadafi depois de estar inicialmente com a oposição.

"Se mudou ou não plenamente para o lado de Kadafi neste momento dentro do país penso que não está claro", disse Burgess. "Mas agora atingimos um estado de equilíbrio onde ... a iniciativa, se quiser, pode estar do lado do regime".

Horas depois de Clapper ter falado, Thomas Donilon, conselheiro de segurança nacional de Obama, apresentou uma avaliação diferente, o que sugere pontos de vista agudamente divergentes entre a Casa Branca e a comunidade de inteligência dos EUA.

Ele disse que a análise dos chefes de inteligência eram "estáticas" e "unidimensionais", com base no equilíbrio de força militar, e deixava de levar em conta tanto o crescente isolamento de Kadafi como acções internacionais para promover seus oponentes. ( White House, intel chief split on Libya assessment | McClatchy , March 11, 2011)

A declaração anterior sugere que a Operação Odyssey Dawn podia levar a uma guerra prolongada e persistente resultando em perdas significativas para a NATO-EUA.

As dificuldades militares da NATO foram relatadas por fontes líbias desde o princípio da campanha aérea.

Horas após o começo dos bombardeamentos, fontes líbias (ainda a serem confirmadas) destacaram o derrube de três jactos franceses. (Ver Mahdi Darius Nazemroaya, Breaking News: Libyan Hospitals Attacked. Libyan Source: Three French Jets Downed , Global Research, March 19, 2011).

A rede nacional de TV da Líbia anunciou que um caça francês havia sido derrubado próximo de Tripoli. O exército francês negou estes relatos:
"Rejeitamos a informação de que um caça francês tenha sido derrubado na Líbia. Todos os aviões que enviámos hoje em missões retornaram à base", disse o porta-voz do Exército francês, coronel Thierry Burkhard, citado por Le Figaro ". (Libya: A french fighter plane was shot down! The French Army denies this information, xiannet.net March 20, 2011)
Fontes internas líbias (a serem confirmadas) também relataram no domingo o derrube de dois jactos militares do Qatar. Segundo relatos líbios, ainda a serem confirmados, um total de cinco jactos franceses foi derrubado. Três destes jactos atacantes franceses foram, segundo os relatos, derrubados em Tripoli. Os outros dois jactos franceses foram derrubados enquanto atacavam Sirt (Surt/Sirte). (Mahdi Darius Nazemroaya, Libyan Sources Report Italian POWs Captured. Additional Coalition Jets Downed, Global Research, March 20, 2011) 

O original encontra-se em http://www.globalresearch.ca/index.php?context=va&aid=23815

Este artigo encontra-se em http://resistir.info/ .