O "Velho", documentário de 1997, dirigido por Toni Venturi, é a história
de um mito, de um homem que encarnou uma causa, um comunista convicto
que carregou ideais. São setenta anos de história brasileira, de Luiz
Carlos Prestes, comandante de uma extraordinária e revolucionária
marcha, que entregou a vida a uma causa social, e foi uma das figuras
principais da América Latina, e uma das mais perseguidas do século XX.
Uma história da esquerda brasileira. Um filme que resgata utopias e
ideologias que em tempos atuais, com a humanidade mais preocupada com o
próprio umbigo, transformaram-se em pó.
Tamára Baranov
Desde cedo Prestes forjou um grande caráter. Com a morte prematura do
pai, Dona Leocádia e uma das irmãs trabalhavam fora, a outra fazia os
trabalhos domésticos. Só Prestes teve o privilégio de estudar e queria
corresponder aos esforços que faziam por ele. Já oficial Prestes ia
todas as noites esperar a mãe, na volta do trabalho, no jardim do Meier,
para acompanhá-la até em casa. Durante toda a sua vida Prestes manteve
esse senso do dever.
Não era um homem expansivo, mas enquanto tenente e capitão do
Exército tratou seus comandados quase com carinho. Por onde serviu criou
escolas, desde alfabetização até a preparação para o concurso a
sargento, escolas em que lecionava sozinho e preparando “professores”
para alfabetização; cuidou da educação física, da instrução militar e da
alimentação, que compartilhava com os soldados.
Quando a Coluna esteve na Bolívia, Prestes ficou por lá até que o
último soldado tivesse ou voltado ao Brasil com segurança e algum
dinheiro ou ficado na Bolívia trabalhando. Prestes foi um homem adorado
por seus soldados justamente pelo calor, pela proximidade que fazia com
que conhecesse o nome de cada soldado da Coluna, seu apelido e seus
problemas. Que tinha uma preocupação real, não demagógica, com cada um
deles.
Independentemente das transformações políticas porque Prestes passou,
foi o período da Coluna e sua ação militar que o transformaram em herói
nacional. O lendário Cavaleiro da Esperança é o tenente revolucionário,
o comandante da Coluna, não o dirigente da insurreição de 1935, nem o
senador da República e muito menos o secretário-geral do PCB.
O fracasso da insurreição de 35 foi, por muitos motivos, extremamente
doloroso para Prestes. Além da derrota política, perdeu sua mulher,
viveu a incerteza sobre o destino de sua filha, viu seu amigo Berger
enlouquecido pelas torturas. Foi preciso muita força de caráter para
superar essa etapa de sua vida. Num ambiente em que a coerência moral e
política eram limitadas, Luís Carlos Prestes ocupou um espaço
excepcional, encarnando a dignidade ausente. O que tornou Prestes a
figura notável que foi deve-se a ele ter escolhido o caminho da
realização plena de sua humanidade, de sua liberdade, caminho que ele
escolheu desde sempre.
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