22 de nov. de 2011

Obrigado pela tua vida camarada Alfonso Cano

Pável Blanco Cabrera [*]

O comunicado do Estado-maior Central confirma: o nosso querido camarada Alfonso Cano, Comandante Supremo das FARC-EP, morreu em combate.
Há meses que os operacionais militares no Cañón de las Hermosas e na região do Cauca, perseguiam esse objectivo, com bombardeamentos constantes de grande escala e mobilização de milhares de efectivos da oligarquia. Várias vezes foi anunciada a sua morte. 

Todas as vozes do poder exigiam a sua rendição; os trânsfugas da esquerda juntaram-se grotescos, bailando ao ritmo marcado por Santos. O papel do renegado aponta sempre para a imobilização, para quebrar a insubmissão, para abandonar a rebeldia. Uns quantos segundos de glória mediática nas páginas de El Tiempo bastaram-lhes para atirar borda fora as ideias anteriores que os enalteciam, não do culto da violência, mas da defesa do direito do povo de lutar pela liberdade e pela emancipação. A esses respondeu o Comandante Alfonso Cano, na entrevista concedida ao diário espanhol Publico: “Desmobilizar-se é sinónimo de inércia, é uma entrega cobarde, é uma rendição e uma traição à causa popular e ao ideário revolucionário que cultivamos e segundo o qual lutamos pelas transformações sociais, é uma indignidade que tem implícita uma mensagem de desesperança para o povo que confia no nosso compromisso e na proposta bolivariana”. [1] 

Contrariamente a esses, o camarada Alfonso Cano escolheu o caminho da consequência, o difícil e agreste solo por onde se deve caminhar com bastante alegria, com a mochila de necessidade, com a confiança infinita no povo trabalhador – o sujeito da História – e a convicção objectiva e inabalável na Revolução. Caminho tão alumiado pelos pirilampos de esperança e no qual cada passo é um alívio, pois é “a satisfação do dever cumprido”, onde as bandeiras hasteadas ondeiam de dia e de noite.

Alfonso Cano, militante comunista, íntegro, sólido intelectual marxista-leninista, conhecedor profundo da história da América e de Bolívar, estratega político e militar, organizador, despedimo-nos sem dúvida, com dor, de um dos quadros comunistas de maior valia do Continente, como Mella, Mariátegui, o Che, Arismendi.
Com a melhor escola em qualquer parte do mundo, que é a Juventude Comunista, chegou a completar a sua formação ao lado de Manuel Marulanda e de Jacobo Arenas. E como comunista, dos verdadeiros, foi um homem de ideias e de acção. 

O camarada Alfonso Cano é indissociável das FARC-EP; todo o revolucionário, se o é, dissolve-se na obra colectiva, na organização, no Partido, e por isso o seu nome brilha mais alto. Quando, há 20 anos, meio mundo abjurou, renegou, se quebrou, em consonância com o movimento contra-revolucionário que se seguiu à derrocada da construção socialista, as luzes da resistência intensificaram o seu resplendor, no nosso continente, na maior das Antilhas e nas montanhas da Colômbia. Não vamos julgar os processos de negociação de El Salvador e da Guatemala, mas temos o dever de reconhecer que as FARC-EP fizeram o que era correcto: manter desembainhada a espada do Libertador, levantar a espingarda e a bandeira vermelha e o lema vigente, duma Colômbia nova e socialista. Consequente com a história da sua organização, o Comandante Alfonso Cano, não se rendeu, não se vendeu, não se entregou e morreu em combate. 

O Comandante Alfonso Cano, cumprindo as tarefas da sua organização, impulsionou a Coordenadora Guerrilheira Simon Bolívar, e os diálogos para a paz. A experiência da UP mostrou aos camaradas das FARC-EP que a luta não pode parar até que o povo conquiste o poder, e viria a ser esse o marco para as maiores contribuições estratégicas do Comandante Alfonso Cano: a organização do Partido Comunista Colombiano (clandestino) e o Movimento Bolivariano por uma Nova Colômbia. Sementes em que germinará a Revolução Colombiana. Consciente de que a libertação de toda a nossa América é uma necessidade, o camarada Alfonso Cano fazia parte da presidência do Movimento Continental Bolivariano. 

Numa organização revolucionária, perder a vida na luta é uma possibilidade. As que são baseadas em métodos caudilhistas não resistirão à prova. Mas a que nasceu em Marquetalia é uma genuína obra colectiva. O mito dizia que as FARC-EP não resistiriam à morte do Comandante Manuel Marulanda, nem aos golpes que foram iniciados a 1 de Março de 2008, contra os Comandantes Raul Reyes e Ivan Rios. Mas Alfonso Cano, no seu papel de Comandante em Chefe, superou o escolho e com criatividade estratégica reposicionou-a no combate desigual com a oligarquia e a intervenção militar norte-americana. A sua morte dói-nos, mas sabemos que a organização nossa irmã, com o seu exemplo, continuará até à vitória. 

O melhor balanço da sua vida e da sua obra será feito pelos próprios camaradas das FARC-EP, com quem estamos irmanados nos ideais, nós só podemos reconhecer a grandeza de todos os combatentes e a consequência exemplar do Comandante Alfonso Cano, marxista-leninista, bolivariano, guerrilheiro, comando, estadista, libertador, homem de confiança infinita na luta de massas. 

Na hora da sua morte, acorrem as cenas anteriores da história dos nossos povos. Há meses que era claro que o imperialismo e a oligarquia concentravam o seu objectivo militar na sua morte. Recordamos a perseguição a Francisco Villa, e o vergonhoso cartaz em que se oferecia uma recompensa pela sua captura, vivo ou morto. O Comandante Alfonso Cano manteve-se na linha. Dizer que foi assassinado, é retirar-lhe o mérito da sua disposição combativa, dizia-me com toda a razão Marco Riquelme, coordenador do Movimento Patriótico Manuel Rodriguez, do Chile, e tem razão. Caiu combatendo. Do despacho de várias agências citado pelo diário mexicano La Jornada, de 5 de Novembro, extraímos o seguinte: Segundo um soldado entrevistado pela rádio, “o homem (Alfonso Claro) não se entregou e praticamente enfrentou a tropa até à morte”. Assim são os combatentes de Manuel Marulanda, dessa têmpera, assim são os homens do Partido, assim vivem e morrem os comunistas.
Ao morrer combatendo, o Comandante Alfonso Cano defendeu, até ao último suspiro, o direito dos povos à rebelião, deixando-o intacto, salvaguardando-o. Fica o exemplo. A sua organização, no breve comunicado, rende de imediato a melhor homenagem: a luta continua, não abandonaram as armas, juram cumprir. 

Também cumpriremos os nossos deveres internacionalistas de solidariedade, para com tão digna organização. 

Adeus, querido camarada Alfonso Cano. Até breve Comandante Alfonso Cano.

[1] Alfonso Cano, o Comandante das FARC responde ao diário espanhol Público: Marquetalia Editores; Montañas de Colombia, 2011
[*] Primeiro Secretário do Partido Comunista do México
O original encontra-se em www.comunistas-mexicanos.org/… .
Tradução de Margarida Ferreira.

Este artigo encontra-se em http://resistir.info/ .


Nenhum comentário:

Postar um comentário