26 de dez. de 2011

Kim Jong-Il - A agressividade cínica do imperialismo

A morte do líder norte-coreano suscitou uma série de debates referentes o caráter do sistema político existente na parte norte da península coreana. Para alguns analistas burgueses, o modo como se deu a transição da liderança após a morte de Kim Jong Il seria a prova concreta de que o regime político do país é uma ditadura brutal, com traços dinásticos. Logo após a morte do "Dirigente Kim Jong Il" (uma das várias maneiras como os norte-coreanos se referem ao falecido líder) a agência KCNA publicou uma nota exortando o povo norte-coreano a apoiar a nova liderança encabeçada por Kim Jong-Un, filho de Kim Jong Il, que até então era vice-presidente da Comissão Nacional de Defesa. É importante ressaltarmos que durante a década de 90, época em que a RPDC passou por um período que ficou conhecido como "Árdua Marcha" e a Comissão Nacional de Defesa se tornou o organismo político mais importante do estado norte-coreano, depois que o cargo de Presidente é extinto.

Kim Jong-Il se tornou o principal líder do país ocupando um cargo distinto do que ocupava o seu pai, Kim Il Sung. Agora, após a morte de Kim Jong Il, finalmente se confirma que Kim Jong-Un se converterá no novo líder do país. A transição aparentemente hereditária da liderança na Coréia Popular recebe os mais odiosos ataques da imprensa burguesa mundial, que fala em "ditadura monárquica comunista" norte-coreana. Poderíamos concordar com tal linha de argumentação se adotássemos um método de analise raso e superficial, como a maioria dos jornalistas e "analistas" propagandistas da ordem capitalista.

O que acontece na Coréia não pode ser compreendido sem antes de tudo não levarmos em consideração o seu contexto histórico. A revolução coreana e a construção socialista no norte da península desde sempre teve que fazer frente aos mais variados tipos de maquinações imperialistas. A Guerra da Coréia, iniciada já depois da fundação da República Popular Democrática, foi uma demonstração clara de que os coreanos jamais poderiam confiar nas boas intenções do imperialismo norte-americano e seus aliados. Kim Il Sung foi o principal líder do povo norte-coreano nesse período, convertendo-se em uma figura amada pela gigantesca maioria do povo coreano. Durante a Guerra da Coréia, Kim Jong Il era muito novo, mas existem relatos que afirmam que os seus interesses por questões políticas já se manifestavam nessa época. Depois da libertação, se engajou na construção socialista do país como ativo militante do Partido do Trabalho da Coréia, participando de trabalhos voluntários no campo e na construção civil; também participou de intensos debates acadêmicos na Universidade Kim Il Sung. Esses fizeram com que Kim Jong Il se tornasse cada vez mais uma liderança popular na Coréia Socialista. As Obras Escolhidas de Kim Jong Il que abordam tais períodos são compostas por vários volumes e abordam uma ampla gama de assuntos: filosofia, política, economia, defesa nacional.

Muitos quadros do Partido do Trabalho da Coréia começaram a apoiar a ideia de que Kim Jong Il se convertesse em líder sucessor na RPDC e assim foi depois que o Presidente Kim Il Sung faleceu. A questão da transição da liderança é vista com grande preocupação pelo Partido do Trabalho da Coréia. Para eles, trata-se de continuar a construção revolucionária levando em consideração aquilo que foi feito pela geração anterior, sem golpes de estado e difamação da liderança predecessora, caminho que poderia dar origem a um "Kruschev coreano". Quando Kim Il Sung morreu, uma das promessas feitas por Kim Jong Il seria a de "não mudar um milímetro" daquilo que foi feito por Kim Il Sung, ou seja, persistiria no caminho socialista dando em uma situação desfavorável criada pela queda da URSS. Cumpriu o que prometeu e foi além, conseguindo estabilizar o país economicamente superando a grave crise econômica que assolou o país nos anos 90.

Qualquer notícia que fale em "crise econômica" e "fome" na Coréia Popular nos dias de hoje é mera propaganda capitalista, não merecendo sequer ser levada em consideração. Obviamente, não se trata aqui de apontar que tudo no país vai bem, pois sabemos que o país enfrenta diversos problemas, como na dificuldade de obtenção de divisas, decorrente em grande parte pelo bloqueio econômico dos Estados Unidos e aliados, que possui proporções mais devastadoras que o bloqueio cubano, por exemplo.

Diante de uma situação tão adversa criada pelo cerco imperialista, que ameaça o país todos os dias, qual a forma encontrada pelo Partido do Trabalho da Coréia em garantir o apoio e a unidade do povo entorno de suas propostas? Fortalecer o papel da liderança, sendo o novo líder Kim Jong Un quase que uma "criação científica" de líder político, que mesmo que não possua o mesmo acumulo ideológico e prático de seus antecessores, contará com ajuda de inúmeros quadros do Partido do Trabalho da Coréia para exercer de modo exitoso suas funções. Porém, o principal não é deixado de lado, e aí reside a diferença fundamental entre a RPD da Coréia e os países burgueses que a difamam: na Coréia Popular as massas populares são o "centro de tudo" (como eles gostam de dizer). O que isso quer dizer? Quer dizer que a posição ocupada pelas massas populares em seu conjunto (classe trabalhadora, camponeses, intelectuais) é radicalmente diferente da posição ocupada pelas massas populares nos países capitalistas. Não se trata de mera propaganda. Na RPD da Coréia o povo participa e constrói sua vida política no dia a dia, nas escolas, nas fábricas, fazendas coletivas e universidades. Para tudo existem debates e discussões.

Para os ideólogos da ordem capitalista, democracia é sinônimo de subserviência ao capital e eleições de fachada, onde nunca a ordem estabelecida é questionada. Quantos dólares um cidadão norte-americano precisa para ser eleito Presidente da República? Quantos reais um político brasileiro precisa levantar para se tornar Deputado Federal? O que é política para a maioria das pessoas que vivem em países capitalistas? São questões que servem para refletir o verdadeiro caráter da sociedade em que vivemos. Alguns poderão questionar: "Mas aqui eu posso dizer o que eu quiser, não vou ser preso". Sim, talvez você realmente não seja preso, mas também suas ideias nunca serão colocadas em prática; e se você não é preso é justamente porque se criou uma situação onde suas ideias dificilmente poderão ser colocadas em prática. Caso as coisas se invertam, não tenha dúvidas que as classes dominantes recorrerão à violência e ao arbítrio para preservar os seus interesses fundamentais. Felizmente os norte-coreanos não precisam e não desejam esse tipo de democracia.

Gabriel Martinez - Editor do Blog de Solidariedade a Coréia Popular
 
 
.

Nenhum comentário:

Postar um comentário