“A ideia é pôr os palestinos em dieta, mas sem matá-los de fome”.
Rami Zurayk e Anne Gough - original “Behind the pillars of cloud” Traduzido pelo pessoal da Vila Vudu no redecastorphoto
Desde a criação do estado, em 1948, Israel sempre usou a comida e a nutrição (ou a falta de comida e a desnutrição) como meio para implantar-se militarmente e realizar a ocupação territorial da Palestina. Enquanto todos os olhos voltam-se hoje para a matança de crianças e a erradicação de famílias inteiras [1], em Gaza na operação “Pilar de Nuvem”, Israel continua em seu plano de longo prazo para dizimar os meios de produção de comida, de criação de animais e as capacidades dos habitantes de Gaza para tomar decisões econômicas e políticas sobre o que plantar e o que comer.
Gaza e toda a Palestina Ocupada está sendo “re-estruturada” como entidade na qual a desnutrição seja endêmica, o acesso à comida negado e as pessoas forçadas a viver sob o medo constante de não ter comida suficiente para si e para a família.
Nos últimos oito anos, o setor de alimentos e criação de animais em Gaza foi severamente agredido, o que fez piorar as condições do setor agrícola, já gravemente abaladas por seis anos de sítio e bloqueio impostos por Israel, além das campanhas militares e décadas de ocupação.
Nos primeiros cinco dias do assalto, o Ministério da Agricultura de Gaza que as perdas nos setores de agricultura e pesca sejam superiores a US $50 milhões. Segundo nosso colega Mohammad El Bakri, que trabalha com o Sindicato das Comissões de Trabalho Agrícola [2] e outros especialistas em Gaza, os agricultores estão hoje no meio do período crucial de colheita de azeitonas e produção de azeite; e a destruição dos pomares é golpe terrível contra a segurança alimentar e econômica de Gaza.
A crise da água
Os ataques aéreos dos israelenses contra os túneis [3] limitaram o fluxo de entrada de alimentos e combustível em Gaza. Poucas lojas permanecem abertas e a ONU já alertou para o risco de crise de água. Há notícias de bombardeios que visam diretamente aos poços de irrigação. O Ministério de Saúde de Gaza já está sem estoque de 40% dos remédios essenciais [4] e com estoque muito baixo de seringas e bandagens.
A terrível situação em que Gaza sobrevive hoje começou em 1948, quando milícias sionistas armadas expulsaram mais de 700 mil palestinos das áreas em que viviam, 200 mil dos quais fugiram para Gaza, onde a população triplicou nesses mais de 60 anos.
Historicamente, Gaza sempre foi conhecida pelo oásis de água fresca de Wadi Gaza [5] , importante ponto de parada nas rotas comerciais entre o Egito e a Síria. Já não é um oásis, as terras arrasadas e absolutamente esterilizadas pelas escavadeiras e niveladoras de Israel ao longo de toda a fronteira leste de Gaza (29% da terra arável [6]) é terra inacessível. Barcos israelenses atiram com canhões de água contra pescadores palestinos, impedindo-os de trabalhar além da distância de três milhas náuticas da praia.
Esgotos poluídos estão vazando dentro do aquífero do litoral, das redes de água e esgoto e dos prédios bombardeados no ataque israelense de 2009-9 contra Gaza, na Operação Chumbo Derretido. [7]
Israel também impediu a entrada em Gaza do equipamento necessário para reparar a infraestrutura danificada. Sem acesso a água para beber, muita gente em Gaza sobrevive hoje com 20 litros/dia/pessoa [8], quando, em Israel, o consumo médio de água é de 300 litros/dia/pessoa. [9]
Todas as 10 mil pequenas propriedades e granjas de Gaza foram danificadas no massacre de 2008-9 [10], meio milhão de árvores foram arrancadas, mais de um milhão de frangos e galinhas foram mortos [11], além de ovelhas, bois, vacas e cabras. Os israelenses destruíram 60% da indústria agrícola em Gaza, provocando perdas da ordem de US$ 268m.
A proporção da população de Gaza que vive sob condições de insegurança alimentar aumentou 75% depois do massacre de 2008-9, e muitas casas já são classificadas hoje como em situação de insegurança alimentar crônica, em Gaza. Dois anos depois dos ataques de 2008-9, a taxa de desemprego em Gaza era de 45,2%. [12]
Campos isolados
Na Cisjordânia a situação também é desesperadora. Os Acordos de Oslo de 1995 dividiram a Cisjordânia em uma Área A, sob controle da Autoridade Palestina, representando 3% da Cisjordânia; uma Área B, sob controle conjunto, equivalente a 25%; e uma Área C, equivalente a 72% da área, sob total controle de Israel, inclusive os campos agricultáveis do vale do rio Jordão.
De fato, o exército de Israel pode invadir qualquer área a qualquer tempo. A bifurcação da terra palestina e a construção de muros e cercas separaram os agricultores de seus campos plantados e dos mercados; [13] garantiram impunidade aos colonos israelenses fanáticos e violentos; e desfiguraram completamente a paisagem.
O objetivo de longo prazo de Israel em Gaza não é só o sítio e o bloqueio, mas, também, implantar naquela região condições e práticas de des-desenvolvimento que forcem os palestinos a depender completamente, ou da potência israelense ocupante, ou da ajuda internacional.
Em 2007, os militares israelenses produziram um cálculo do número mínimo de calorias/dia autorizadas para os habitantes de Gaza. [14] O mecanismo de controle da ingestão calórica caracteriza punição coletiva e eterno sofrimento, mas não leva à morte por fome. Não pode haver qualquer dúvida de que essa política de des-alimentação criada por Israel e implantada contra os palestinos é do conhecimento e conta com o apoio do governo dos EUA.
As consequências do mais recente assalto israelense contra Gaza, em 2012, só se tornarão plenamente visíveis depois que a poeira assentar. Mas não se afastarão muito do objetivo já declarado de Dov Weisglass em 2006: “A ideia é pôr os palestinos em dieta, mas sem matá-los de fome”.
Desde a criação do estado, em 1948, Israel sempre usou a comida e a nutrição (ou a falta de comida e a desnutrição) como meio para implantar-se militarmente e realizar a ocupação territorial da Palestina. Enquanto todos os olhos voltam-se hoje para a matança de crianças e a erradicação de famílias inteiras [1], em Gaza na operação “Pilar de Nuvem”, Israel continua em seu plano de longo prazo para dizimar os meios de produção de comida, de criação de animais e as capacidades dos habitantes de Gaza para tomar decisões econômicas e políticas sobre o que plantar e o que comer.
Gaza e toda a Palestina Ocupada está sendo “re-estruturada” como entidade na qual a desnutrição seja endêmica, o acesso à comida negado e as pessoas forçadas a viver sob o medo constante de não ter comida suficiente para si e para a família.
Nos últimos oito anos, o setor de alimentos e criação de animais em Gaza foi severamente agredido, o que fez piorar as condições do setor agrícola, já gravemente abaladas por seis anos de sítio e bloqueio impostos por Israel, além das campanhas militares e décadas de ocupação.
Nos primeiros cinco dias do assalto, o Ministério da Agricultura de Gaza que as perdas nos setores de agricultura e pesca sejam superiores a US $50 milhões. Segundo nosso colega Mohammad El Bakri, que trabalha com o Sindicato das Comissões de Trabalho Agrícola [2] e outros especialistas em Gaza, os agricultores estão hoje no meio do período crucial de colheita de azeitonas e produção de azeite; e a destruição dos pomares é golpe terrível contra a segurança alimentar e econômica de Gaza.
A crise da água
Os ataques aéreos dos israelenses contra os túneis [3] limitaram o fluxo de entrada de alimentos e combustível em Gaza. Poucas lojas permanecem abertas e a ONU já alertou para o risco de crise de água. Há notícias de bombardeios que visam diretamente aos poços de irrigação. O Ministério de Saúde de Gaza já está sem estoque de 40% dos remédios essenciais [4] e com estoque muito baixo de seringas e bandagens.
A terrível situação em que Gaza sobrevive hoje começou em 1948, quando milícias sionistas armadas expulsaram mais de 700 mil palestinos das áreas em que viviam, 200 mil dos quais fugiram para Gaza, onde a população triplicou nesses mais de 60 anos.
Historicamente, Gaza sempre foi conhecida pelo oásis de água fresca de Wadi Gaza [5] , importante ponto de parada nas rotas comerciais entre o Egito e a Síria. Já não é um oásis, as terras arrasadas e absolutamente esterilizadas pelas escavadeiras e niveladoras de Israel ao longo de toda a fronteira leste de Gaza (29% da terra arável [6]) é terra inacessível. Barcos israelenses atiram com canhões de água contra pescadores palestinos, impedindo-os de trabalhar além da distância de três milhas náuticas da praia.
Esgotos poluídos estão vazando dentro do aquífero do litoral, das redes de água e esgoto e dos prédios bombardeados no ataque israelense de 2009-9 contra Gaza, na Operação Chumbo Derretido. [7]
Israel também impediu a entrada em Gaza do equipamento necessário para reparar a infraestrutura danificada. Sem acesso a água para beber, muita gente em Gaza sobrevive hoje com 20 litros/dia/pessoa [8], quando, em Israel, o consumo médio de água é de 300 litros/dia/pessoa. [9]
Todas as 10 mil pequenas propriedades e granjas de Gaza foram danificadas no massacre de 2008-9 [10], meio milhão de árvores foram arrancadas, mais de um milhão de frangos e galinhas foram mortos [11], além de ovelhas, bois, vacas e cabras. Os israelenses destruíram 60% da indústria agrícola em Gaza, provocando perdas da ordem de US$ 268m.
A proporção da população de Gaza que vive sob condições de insegurança alimentar aumentou 75% depois do massacre de 2008-9, e muitas casas já são classificadas hoje como em situação de insegurança alimentar crônica, em Gaza. Dois anos depois dos ataques de 2008-9, a taxa de desemprego em Gaza era de 45,2%. [12]
Campos isolados
Na Cisjordânia a situação também é desesperadora. Os Acordos de Oslo de 1995 dividiram a Cisjordânia em uma Área A, sob controle da Autoridade Palestina, representando 3% da Cisjordânia; uma Área B, sob controle conjunto, equivalente a 25%; e uma Área C, equivalente a 72% da área, sob total controle de Israel, inclusive os campos agricultáveis do vale do rio Jordão.
De fato, o exército de Israel pode invadir qualquer área a qualquer tempo. A bifurcação da terra palestina e a construção de muros e cercas separaram os agricultores de seus campos plantados e dos mercados; [13] garantiram impunidade aos colonos israelenses fanáticos e violentos; e desfiguraram completamente a paisagem.
O objetivo de longo prazo de Israel em Gaza não é só o sítio e o bloqueio, mas, também, implantar naquela região condições e práticas de des-desenvolvimento que forcem os palestinos a depender completamente, ou da potência israelense ocupante, ou da ajuda internacional.
Em 2007, os militares israelenses produziram um cálculo do número mínimo de calorias/dia autorizadas para os habitantes de Gaza. [14] O mecanismo de controle da ingestão calórica caracteriza punição coletiva e eterno sofrimento, mas não leva à morte por fome. Não pode haver qualquer dúvida de que essa política de des-alimentação criada por Israel e implantada contra os palestinos é do conhecimento e conta com o apoio do governo dos EUA.
As consequências do mais recente assalto israelense contra Gaza, em 2012, só se tornarão plenamente visíveis depois que a poeira assentar. Mas não se afastarão muito do objetivo já declarado de Dov Weisglass em 2006: “A ideia é pôr os palestinos em dieta, mas sem matá-los de fome”.
Notas de rodapé
[1] 18/11/2012, The Guardian, UK, Harriet Sherwood (de Jerusalém) em: “Gaza: four children killed in single Israeli air strike”
[2] Ver em: “Union of Agricultural Work Committees”
[3] 18/11/2012, ONU, em: “Gaza situation report, 18 November”
[4] 18/11/2012, The Independent, UK, Jeremy Laurance em: “Overwhelmed Palestinian doctors run out of life-saving medicines”
[5] 6/4/2007, NYTimes, Mark Zeitoun em: “A Gaza Tragedy: Complicity when the dam breaks”
[6] Ver “Agricultura na Cisjordânia Ocupada” (em inglês)
[7] 27/10/2009, Anistia Internacional, em: “Israel rations Palestinians to trickle of water”
[8] Idem item [7]
[9] Idem item [7] e [8]
[10] 23/1/2009, Food and Agriculture Organization of the United Nations (FAO) em: “The humanitarian situation in Gaza and FAO’s response”
[11] 12/2006 – 1/2009, United Nations Environment Programme em: “Environmental Assessment of the Gaza Strip”
[12] UNRWA – United Nations Agency for Palestine Refugees, em: “Labour Market Briefing /Gaza Strip – 2nd Half 2010”
[13] 13/11/2012, UNRWA – United Nations Agency for Palestine Refugees, em: “Farmer's income stuck on the ‘other’ side of the Barrier”
[14] Idem nota [13]
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